domingo, 6 de julho de 2003

Editar e ditar

Polemizar com o Liberdade de Expressão é um prazer que não me importo de cultivar.
Primeiro: o Google não trabalha apenas com links nem apenas com clicks. O sistema é bem mais complexo. Mas manipulável, como tudo na vida. Basta fazer uma busca na Web (de preferência fora do Google...).
Segundo: a verdade sobre Jessica Lynch é alcançável, não a verdade absoluta (que não existe), mas uma verdade aceitável. O Washington Post escreveu milhares de caracteres sobre o assunto. A dualidade de critérios é que me parece criticável: sobre a Jessica Lynch nunca se saberá a verdade, por isso o melhor é esquecer o assunto. Discordo.
Terceiro: a blogosfera, no seu todo, não é manipulável, concordo. Mas também sei que nos media (nos tradicionais e nos novos) se geram correntes, baseadas no politicamente correcto ou noutro qualquer princípio invisí­vel, que fazem com que, a cada momento, certas verdades circulem com mais facilidade que outras.
O Aviz, com a serenidade e a ponderação próprias do lugar, mas não só, junta à  discussão uma série de tópicos pertinentes acerca do funcionamento das secções de internacional dos media.
Eu, que nos últimos meses tive de escrever sobre a guerra do Iraque e o Médio Oriente à distância de milhares de quilómetros, bem sei a dificuldade em joeirar os factos das preconceitos, a verdade possível da especulação rasteira. Descrevi, quase ao pormenor, batalhas que não vi, colhendo uma ideia na France Press, uma imagem no New York Times, uma frase solta na BBC. E depois a escrita, a ponderação dos termos a utilizar, a necessidade de ser minimamente imparcial, sabendo que não devia ser equidistante. Não é fácil, acreditem. E não aceito que se meta tudo no mesmo saco e se veja manipulação por todo o lado. Isto não quer dizer que concorde com a actuação geral dos media (é verdade, a questão da responsabilidade é fulcral...). Acho mesmo que muito do funcionamento da democracia, no sentido mais amplo do termo, está em causa. Eis uma discussão a retomar.