quinta-feira, 15 de julho de 2004

- Jotinha, nem acredito. Pela primeira vez, vais de férias sem mim. Sabes, pelo menos, quando voltas?
- Sei lá se...

Bandeira

O Euro já lá vai e Lisboa continua com bandeiras à janela.
O hino e a bandeira respeitam-se e usam-se em momentos simbólicos.
Agora, estão lá por pura preguiça. Afinal, uma sentida homenagem a esta bandalheira a que por vezes chamamos Pátria.

Voltem a ler

Vale a pena reler o refeito último texto do Cruzes Canhoto.

Uma coisa em forma de...

Passei numa livraria e reparei que há uma nova edição (Assírio?) do esgotadíssimo Uma Coisa Em Forma de Assim, de Alexandre O'Neill.
É uma das mais fabulosas colecções de textos que conheço - por isso, está nos primeiros textos de TdN. À laia de referência.
Os tempos que vivemos são «em forma de assim». Corram para as livrarias - aquilo vai esgotar.

Vou pensar

Acho que foi o Paulo Gorjão que, há uns tempos, se questionava sobre o facto de a maioria dos blogues portugueses serem anónimos e de isso estar, de alguma forma, relacionado com um défice de democracia em Portugal.
Desde essa altura - foi há uns meses - nasceram muitos blogues assinados por baixo. De gente conhecida e de outra nem tanto.
O TdN começou por não ser assinado, depois foi explicitamente assinado e, agora, na última revisão do template, perdeu a assinatura. Primeiro por um acaso informático, depois porque sim.
O semi-anonimato dá um certo charme aos blogues. Pela parte que me toca, vou continuar assim - até porque quem quer saber quem é jmf já o sabe, quem não sabe e quer saber é só perguntar.
Esta conversa longa vem a propósito de uma coisa um pouco mais séria.
Nas últimas semanas, pela primeira vez, não me revi integralmente neste blogue, pela simples razão de que me auto-censurei.
Trabalho, profissionalmente, num jornal muito conhecido, propriedade de um grande grupo, mas que na prática é como se fosse estatal.
O que escrevo no blogue nada tem a ver com a minha actividade profissional - nunca misturei planos.
Mas percebi que, nos últimos tempos, houve uma certa profissionalização da blogosfera, com a chegada de funcionários partidários, pessoal de gabinetes e quejandos...
Sinto que o que escrevo por aqui - dentro dos critérios de total responsabilidade, mas igualmente de total liberdade - é lido em sítios e por pessoas que podem/querem tirar daqui consequências que nada têm a ver com um debate franco e sadio de ideias.
Quando criei o blogue, a política estava no fundo das prioridades, mas - olhem à vossa volta! - tornou-se o assunto central da nação.
Não tenho partidos por trás de mim que me tratem dos tachos e , como diz o outro, tenho família para sustentar.
Nesse exercício de auto-contenção, de medir as palavras, perde-se parte do gozo do blogue. E, insisto, o pior é que não me revejo.
É por isso que vou pensar.

Chegam revistas

Pacheco e Pereira e José Manuel Fernandes são as duas opiniões que a Economist de amanhã cita num artigo chamado «Here comes the mayor».

Chegam mails

"Agora eles (Os israelenses) tem como chefe de estado um homem (Ariel Sharon) que mesmo um inquérito israelense reconhece como responsável pela morte de entre 800 a três mil palestinos desarmados, a maioria mulheres e crianças, em Sabra e Chatila em 1982.
Isso é de dez a trinta vezes o número de vítimas atribuídas a Carlos, o Chacal, durante toda sua carreira - e suas 80 possíveis mortes não eram em sua maioria mulheres e crianças - e vinte a cinquenta vezes o número de mortes no massacre de Racak, que precipitou o bombardeio da Otan à Iuguslávia.
Mas este líder, que poderia ter sido um perfeito comandante da Waffen SS, é tratado como uma figura política de respeito, mesmo que ele organize políticas de força consistente com seu sangrento histórico terrorista. Há um alegado "Açougueiro de Bagdá" e um "Açougueiro dos Balcãs", mas não um "Açougueiro de Tel Aviv", por puro viés político."

Edward Herman, professor de economia em Wharton, EUA.

Bagão Félix nas Finanças

Durão Barroso não fugiu?
(...)
3. A remodelação - perdão «A» remodelação, a tal remodelação salvadora - é virtualmente impossível. A capacidade de atracção de gente de qualidade para a política - e, especificamente, para este governo - é baixíssima. As (poucas) substituições que já houve no Governo foram no sentido do emprobrecimento, não do fortalecimento, da equipa.
(...)
Terça-feira, Junho 29, 2004.

quarta-feira, 14 de julho de 2004

Último aviso

Na falta de outra forma para o fazer,
avisa-se por esta via o senhor MacGuffin de que um grupo de amigos por mim liderado decidiu proceder à demolição da sua casa às 6 da manhã da próxima quinta-feira.
Deve-se esta decisão ao facto de não gostarmos da cara do senhor MacGuffin. Da cara e dos gostos musicais e literários exibidos. Ah, e também não gostamos dos amigos.
Mais se informa o senhor MacGuffin que isto é um assunto entre mim e os meus amigos e o senhor MacGuffin, pelo que de nada lhe vale apelar para as instâncias judiciais, Conselho de Segurança, ou mesmo câmara de Borba.
Fica o senhor MacGuffin desde já informado que a única instância a que reconhecemos legitimidade, seja qual for o assunto, somos nós próprios.
De qualquer forma, o senhor MacGuffin é e será para todo o sempre culpado de tudo o que nos apetecer, pelo que de nada lhe vale, sequer, protestar.
Informa-se ainda que, na referida demolição, serão utilizadas armas de destruição maciça, cuja existência negamos desde já e que consideramos boas e justas pelo simples facto de estarem na nossa posse.
Fica por esta via informado o senhor MacGuffin que a acção será levada a cabo independentemente de o senhor MacGuffin se fazer rodear dos seus muitos e conhecidos amigos, cuja cultura e QI absolutamente superiores os torna em óbvio alvo.
Depois não diga que não foi avisado.

Populismo é...

Passar o tempo a dizer que o Estado é gastador.

Susto no metro

Apanhei o metro na Linha Amarela. Quando reparei que ia para o Rato, saí apressadamente na penúltima estação. Fui acometido do síndrome Vitorino.

Para siempre

- Jotinha, diz-me coisas de amor...
- Podem ser poemas do Neruda!?

Lúcia nas escalas com dinamite

Um perdeu o link que nunca existiu. O outro apagou o texto para onde dava o link. Estão, obviamente, a tentar por-me maluco.
[Não iniciados, abstenham-se - entrámos há umas horas numa montanha russa alucinada e não fazemos a mínima ideia de coisa nenhuma. Tenho de me deixar do LSD...]

terça-feira, 13 de julho de 2004

Agora, belisco-me eu

Leio-me, releio-me e não consigo encontrar a frase, ou algo que permita alguém concluir que eu pense que:
Mas criminosos de guerra há só um: Ariel Sharon e mais nenhum. E só do lado israelita se pode esperar tudo.
Aliás, consigo encontrar exactamente o contrário em tudo, repito, TUDO, o que tenho escrito sobre o assunto.
O que eu acho é EXACTAMENTE o contrário daquilo que o MacGuffin pensa que eu acho. Mas acho que isso lhe interessa pouco...
Nada a fazer. Vou beliscar-me outra vez.

Filosofias

- Jotinha, amor, está aqui o Sócrates ao telefone...
- Olha, diz-lhe que eu agora estou mais na minha fase Foucault.

Este homem é impagável

O João Miranda, em directo da redacção do Inimigo Público:
Se eles estão contra, deve ser boa ideia
Lista de organizações que criticaram Santana Lopes por querer transferir ministérios de Lisboa: alguns funcionários públicos a título individual, sindicatos da função pública, organizações empresariais, organizações de agricultores, organizações ligadas ao turismo, o PS, o PCP, o Bloco.

Toma lá beliscão

O MacGuffin beliscou-se por causa de uma coisa que escrevi sobre o Médio Oriente. Esperando que não se tenha magoado, esclareço:
Ariel Sharon manda demolir casas de civis aos magotes, Ariel Sharon manda construir um muro no terreno dos vizinhos, os soldados de Israel mataram há três semanas uma menina de quatro anos que tinha ido comprar rebuçados, os soldados de Israel demoliram ontem uma casa com um paraplégico de 72 anos lá dentro - o Ariel Sharon aplaude e acha normal. O Ariel Sharon é, em suma, um criminoso de guerra. E nem preciso de ir buscar o seu passado - basta-me o que faz à vista de nós todos. De um criminoso de guerra, espero tudo, até e principalmente que dispare sobre o seu próprio povo.
[E eu nem sequer acusei o Ariel Sharon daquele atentado - com a densidade de idiotas por metro quadrado que há naquele cantinho do mundo, tudo é possível...]

segunda-feira, 12 de julho de 2004

Até já, Canhoto

O Cruzes Canhoto acabou. Em glória - morreu por uma causa.
Compreendo o desespero, o gesto desmedido.
Como compreendo, por exemplo, a demissão de Ferro Rodrigues. A política sem paixão, sem coração, não faz sentido. Não faz sentido da forma calculista que agora se usa. Tipo «Sócrates não avança se Vitorino avançar». Mas que merda de política é esta? Qual era a convicção com que Sócrates se propunha (propõe?) liderar o PS? Ou será ele, apenas, o cavalo luzidio e telegénico que um grupo de sedentos imagina ser o melhor para bater Santana na pista meditática em que ambos medraram?
E eu já não percebo esta gente. Se é populista é porque é populista, se é tecnocrata é porque é tecnocrata, se se emociona é porque não tem jeito para a coisa.
Mas, porra, estou farto de líderes de plástico, construídos laboriosamente para vencer eleições.
Ao manobrismo desta gente que agora assaltou o poder eu gostaria que alguém respondesse com a humildade de projectos pensados, serenos, sérios. Acho que isso, por uma questão de peso político, só pode acontecer no PS. Mas não acredito. Aquilo é um ninho de víboras, como o caso de Ferro deixou bem claro.
[Quanto a ti, J., avisa quando criares um novo blogue...]

Pensando melhor...

Voto obrigatório?
Ora aí está um tema interessante. Às vezes, chego a pensar se não seria preferível. Se, dessa forma, não se acabaria com aquela malta que passa a vida a culpar o sistema, os políticos, e a pôr-se de fora. Como se a política fosse uma coisa que lhes é estranha. Ficavam sem alibi.

Para o CAA

O CAA despede-se. Foi dos primeiros bloggers com que me cruzei nestas andanças, no excelente Mata-mouros. Concordámos muitas vezes sobre algumas coisas, discordámos quanto a outras. As suas apreciações bloguísticas de domingo à noite foram um must. Nos últimos tempos, o CAA tinha perdido algum brilho - coisas da Nova Democracia...
Apesar da saída de CAA, o Blasfemias continua a ser um dos meus blogues favoritos. Pela inteligência, mas igualmente pelo espírito de abertura. É dos poucos blogues com uma linha política definida que cultiva a diversidade, o espírito crítico. Coisa de aplaudir, neste tempo de carneirada.

domingo, 11 de julho de 2004

E se?

Achei especialmente apropriado aquele atentado, hoje em Telavive, 48 horas após o acórdão do Tribunal de Haia que ilegaliza o muro e em cima da habitual reunião semanal do Conselho de Ministros de Israel.
Nota 1: o atentado não foi realizado por qualquer suicida, foi uma bomba colocada numa paragem de autocarro;
Nota 2: o atentado fez apenas um morto;
Nota 3: Ariel Sharon usou o atentado como exemplo do terrorismo que justifica o muro.

O Gato das Botas

Então, lá fomos ver o Shrek 2.
Nada de especial. É mais uma história de um Ogre Genuíno que queria ser feliz para sempre com um Ogre Disfarçado de Princesa (ou vice-versa). A meio da história, atravessa-se um Gato das Botas, de pelo cor de cenoura, que era suposto desfazer o casamento, ou pelo menos torná-lo infeliz, mas que acabou por se tornar no maior amigo do casal.
E pronto. É assim a História.

Crise? Nããã...

O João Miranda [Blasfemias] acha que a «crise das democracias» é apenas uma frase feita.
Não me parece - as taxas de abstenção bastam para provar o contrário. O JM vai buscar a I República, mas não era preciso ir tão longe. Admito até que a crise não seja crescente, que seja crescente apenas a percepção que temos da crise (devido à mediatização e outros factores) - o que vai dar ao mesmo.
Quanto à questão da confiança, o erro é ver a coisa a preto e branco. Confiança cega versus desconfiança total. Ora, nisto como no resto, há graus - e eu penso que, sim, entre políticos e eleitores tem de haver confiança. Em graus variáveis.
Não me parece, igualmente, que a «ética» ou a «cidadania» sejam alheias à política, como a às organizações humanas. A confiança, o grau de confiança, que o João Miranda deposita no homem do talho depende, não apenas dos trocos, mas da qualidade da carne que ele lhe vende, dia após dia. Uma dia que ele chegar a casa e vir que a carne não é tão boa como a do dia anterior, a sua confiança será afectada. E isso tem a ver com a ética.
Dito isto, é claro que o sistema de «checks and balances» funciona - ele destina-se a avaliar e rectificar o desempenho dos políticos. E esse desempenho inclui factores éticos e de confiança. É por isso que a avaliação dos políticos só pode ser subjectiva - porque cada um de nós tem entendimentos diferentes desses critérios.
Já agora, um esclarecimento: eu não desprezo os debates constitucionais. Pelo contrário. Acho-os interessantíssimos, precisamente porque tratam dessa matéria fluída de que se faz a política. Eu apenas disse que, aqui e agora, esse debate é teórico - os actores políticos prosseguirão praticamente indiferentes às mudanças de contexto.
Em política, os factores pessoais sobrepõem-se sempre às estruturas legais. Veja-se o caso Soares/Cavaco - o PR não precisou de qualquer pré-aviso constitucional para, na prática, travar a governação.

Business as usual

Discute-se agora como vai ser. Como vai o Presidente controlar as políticas do novo Governo - ele, que exigiu fidelidade aos compromissos de 2002 - e como vai o Governo conformar-se - não hostilizar, pelo menos - com o Presidente?
Do ponto de vista teórico, parece-me excitante. Os constitucionalistas vão vibrar com a redefinição dos lugares ocupados pelo PR, a AR e o Governo no sistema constitucional, delirar com os limites da coisa, trocar argumentos sobre o tipo de regime em que, afinal, vivemos e, mais importante ainda, que entendimento fazem os actuais detentores dos cargos dessa arquitectura.
Não sendo constitucionalista, nem jurista, nem nada, confesso que é um debate a que acho graça. Relativamente ocioso, enfim, mas com graça. Uma espécie de xadrez.
Mas, na verdade, não espero que a prática, a realidade, a vidinha, estejam muito interessados nessa conversa.
O Governo vai governar como muito bem entender - dentro dos limites do costume - e o Presidente vai observar, ao longe, com a visão minimalista a que (n)os habituou. Vai chamar Santana a Belém, conversar no recato dos salões, chamar-lhe a atenção para um pequeno deslize, um esquecimento aqui, um exagero ali, e vai vetar uma coisita de vez quando, mandar outra para a Assembleia.
Nada de diferente do que tem sido. O Presidente, tendo a bomba atómica, tem muito poucas armas de menor envergadura. Se as usar com uma pequeníssima insistência, será imediatamente classificado de força de obstrucção. Com alguma razão, aliás.
Depois, quanto à governação concreta, convenhamos que a apreciação só pode ser altamente generalista, nunca descendo à análise fina, que é, afinal, a que faz a diferença. Dou um exemplo - Sampaio quer a continuação do rigor orçamental. Certo, mas de qual rigor? Do rigor dos dois-vírgula-tal propagandeados por Manuela Ferreira Leite e aceites por Bruxelas, ou dos mais-de-cinco que o Banco de Portugal considera reais?
Nas questões europeias, a mesma coisa. Todos sabemos que existe consenso anunciado sobre a necessidade e fazer um referendo sobre a Constituição europeia, mas todos sabemos, igualmente, que esse consenso aparente esconde divergências de fundo sobre o momento, as questões, as consequências, etc, etc. A partir de que momento considerará o Presidente que existe jogo sujo? Esta questão - que até aqui poderia ser dirimida pelas vias políticas normais da concertação - ganhará no contexto actual uma muito maior relevância.
Mas, é claro, estamos a cair na tal teorização. O melhor será mesmo esperar para ver.

sábado, 10 de julho de 2004

Contributos para o «sampaísmo»

Vital Moreira, no Causa Nossa, escreve sobre o «sampaísmo constitucional», nomeadamente sobre o papel que Jorge Sampaio se atribui na fiscalização das políticas concretas do governo.
Além das perplexidades já referidas noutros locais - será este um governo Sampaio/Santana/Portas, em que Belém dá o aval político à-priori e controla o dia-a-dia da governação? - acrescento ainda esta.
O que entende o Presidente por «orientações políticas votadas nas eleições de 2002»? O «choque fiscal» do programa eleitoral, ou a política fiscal concreta, expressa logo no programa de Governo, e de facto concretizada? Ou refere-se Sampaio ao famoso TGV, que, ao longo destes dois anos e meio, tanto foi «prioridade», como metido na gaveta?
Tenho para mim que, nas eleições legislativas, mais do que em partidos ou programas, votamos em pessoas [aqui, discordo da análise de VM - uma coisa é a Constituição, a sua letra, outra é a prática...], porque são elas que - na realidade - dão corpo às políticas [acho imensa graça às reestruturações - de empresas, por exemplo - nas quais se desenham relações hierárquicas e outras, quando o que realmente conta são as pessoas concretas e as relações que estabelecem entre si].
Acresce que, devido à erosão das ideologias e a outros factores, os programas, principalmente os eleitorais, mas também os de Governo, são cada vez mais um conjunto de banalidades, indifererenciáveis entre si.
Nas pessoas concretas está, pois, a chave da política contemporânea. Veja-se o caso presente - com o mesmo programa (do PSD e eleitoral), todos esperam de Santana Lopes um desempenho político bem diferente do antecessor. E isso mesmo que mantenha as principais (ou todas...) linhas do programa de Governo de Durão.
A posição de Jorge Sampaio, nesta matéria, não deixa, pois, de revelar um certo lirismo.

1930-2004

Maria de Lurdes Pintasilgo era uma mulher de uma generosidade e disponibilidade enormes. Há-de haver - tem de haver - algures um caminho fora dos caminhos comuns para um mundo melhor. Acho que era isso que ela procurava. A sua voz vai fazer-nos muita falta.

A crise

Uma das principais causas da crise em que está mergulhada a democracia ocidental tem a ver com a quebra de confiança entre eleitores e eleitos. Que pode ser resumida numa frase: «Que fazem com o meu voto?»
Entre nós, uma bizarra aliança entre Durão Barroso e Jorge Sampaio acaba de levar essa crise a um ponto extremo.
A esquerda, porque claramente perdedora no jogo, já percebeu.
A direita, porque inebriada pelo poder, pensa que ganhou.
O tempo há-de revelar as verdadeiras consequências dos gestos destas duas semanas. Mas nós raramente percebemos as lições do tempo. A nossa capacidade de esquecimento é superior.

sexta-feira, 9 de julho de 2004

Última hora

Radares de Belém perdem rasto ao Enola Gay.

Já são (pelo menos) dois

«Nós estamos perante a maior crise desde o dia 25 de Abril.»
«Agora, [Sampaio] já não escapa a dividir o País, como já não sucedia há quase vinte e cinco anos.»
Extra, extra: Vasco Pulido Valente concorda com a louca da Pintasilgo.

Coisa assim a modos que para o mau gosto

- Jotinha, não estás a ouvir? Parece um avião a hélice.
- É o Enola Gay. Vai para Belém, atrás de um cometa... vem só deixar a bomba atómica.

A vida é bela?

Por falar em cinema... quem está a preparar um novo filme é Roberto Benigni.
À semelhança do que acontece relativamente a Moore - e tendo em conta a sua filmografia e o tema deste filme -, fico ansioso pela estreia.

More Moore !

Michael Moore diz que divulgará todas as provas que conduziram ao filme Fahrenheit 9/11.
Tarefa inglória - por cá, ainda o filme não estreou e já se podem ler esclarecidas e aprofundadas opiniões. Os factos interessam pouco a esta malta. É tudo uma questão de fé. Da má.

quinta-feira, 8 de julho de 2004

Brasil, apesar dos equívocos

Na Veja desta semana, há um anúncio de duas páginas que fala de nós. É da cachaça Pirassununga 51 e reza assim: «Cachaça 51, para os portugueses matarem as saudades da terrona» e, mais abaixo, «aprecie em reais o que os portuguses estão pagando em dólares».
Nós não temos saudades da «terrona», nós é mais «terrinha», nós não bebemos cachaça, nós é mais aguardente, nós não pagamos em dólares, nós é mais euros... mas nós percebemos a mensagem: os brasileiros estão orgulhosos por exportarem cachaça e dão Portugal como exemplo.
Europa, para os brasileiros, era, até há muito pouco tempo, Paris, Roma e pouco mais. Portugal não era bem Europa, essa Europa símbolo de cultura e modernidade. A Europa onde se vai passear.
Agora, com alguns equívocos - e muitos imigrantes - à mistura, Portugal parece ter ganho espaço no mapa-mundi do Brasil. Isso é bom, acho eu.
O Brasil e África ainda são o que de melhor temos para dar ao mundo. Essa coisa da língua perdura mais que séculos de colonialismo, décadas de guerra, outras tantas décadas de mal-entendidos.
Com esses países - mas principalmente com o Brasil - começa a emergir uma relação descomplexada, feita de vai-vém e troca de gentes, cultura, artes, dinheiro... com a qual só temos a ganhar. De repente, deixou de ter importância a colonização da telenovela a que correspondia, do lado de lá, uma fossilização no Pessoa, no Eça, na Amália. De repente, há brasileiros de sucesso em Portugal, como também há brasileiros a servir nos restaurantes, com a mesma naturalidade com que os portugueses, no século XX, lá chegaram e ficaram com o que havia.
Assim, sem complexos, podemos sentar e conversar, imaginar projectos comuns, revelarmo-nos ao mundo. Não é coisa de somenos.

quarta-feira, 7 de julho de 2004

Foi você que pediu a pena de morte?

Numa entrevista ao El País de hoje, o primeiro-ministro do governo iraquiano, Ayad Alawi, diz isto: «Queremos a pena de morte por um tempo limitado».
Tradução para português corrente: «É só até limparmos o sebo ao Saddam».
É claro que, perante a insistência do jornalista, Alawi nega que essa intenção tenha a ver com Saddam, mas antes com «as atrocidades que os terroristas» estão a cometer no país.
Mesmo dando de barato que não se trata de uma lei feita especificamente para Saddam - o que equivale a dizer que eu me chamo Napoleão - pergunta-se: no estado de total anarquia em que se encontra o Iraque, que garantias há de uma justiça justa, que vá até ao ponto de não retorno que constitui a pena de morte?
[Só agora me dou conta que acabo de escrever três parágrafos em que discuto os cenários em que pode ser aplicada a pena de morte - estranhos tempos estes...]

Os donos da bandeira

Agora era a minha vez de recordar que, no ano 2000, o governo mandou distribuir pelas escolas o chamado kit patriótico - bandeira, hino e mapa.
Acho, sinceramente, que não vale a pena. Daria muito trabalho... teria de explicar a JV, do Quinto dos Impérios, quem estava no governo em 2000. Talvez, então, ele percebesse que ocioso é ele preocupar-se com o que a esquerda faz com a bandeira e o hino.
E, é claro, se trocássemos umas ideias sobre assunto, dificilmente essa conversa teria graça - uma desilusão para JV.

A tasca subterrânea

Agora puseram uns televisores nas estações de metro. Como se escreve no Cibertúlia, «já nem para debaixo de terra se pode fugir...» O problema, curiosamente, nem está no que se vê - uns spots idiotas a tentarem passar por notícias - mas no som. Aquilo está sempre altíssimo, agride. Se não houver uma lei que proíba tal anormalidade, haveria de haver, pelo menos, o bom senso.

terça-feira, 6 de julho de 2004

O silêncio que precede a bomba atómica

- Então, Jotinha? Estás tão calado...
- É pra não perturbar a reflexão do senhor Presidente.

Where in the hell lives JPP ?

A resposta está aqui.

segunda-feira, 5 de julho de 2004

A democracia, versão catódica

Marcelo está em directo na TVI, Santana está em directo na RTP, Proença de Carvalho está em directo na SIC-Notícias.
Aposto que Pacheco Pereira está no Canal Panda, António Pinto Leite no Canção Nova e Luís Delgado nos outros todos.

Cruz de Sampaio

Do discurso que o Presidente da República fez hoje aos jogadores portugueses que estiveram no Euro, gostei especialmente de um parágrafo:
«Dentro de alguns dias, irei distinguir também os responsáveis que, fora de campo, tornaram possível esta organização. Aqueles que conseguiram e aqueles que concretizaram este grandioso projecto!»
Porque terei achado curioso este parágrafo?

Socorro!

... já andam por aí a falar em pactos de regime.

Major Tom... earth calling

Para evitar aterragens suaves - para quê a suavidade, se a malta precisa mesmo é de aterrar? - nada melhor que esta notícia do Diário Económico:
«O Tribunal de Contas (TC) considera que as “práticas de desorçamentação” persistiram no primeiro ano de governação de Manuela Ferreira Leite à frente do Ministério das Finanças. No relatório sobre a Conta Geral do Estado relativa a 2002 - a que o DE teve acesso e que será discutida no próximo dia 8, na Parlamento - os juízes-conselheiros do TC mantêm “reservas” aos valores globais de “receita e despesa (..) e, consequentemente, ao valor do défice orçamental” registado.»

Manhosos...

Os jornais de hoje estão cheios de anúncios patrióticos, eufóricos, a transbordar de auto-estima. Não comento a mensagem - até me parece que têm razão - apenas a manha. Aqueles são, claramente, anúncios feitos antes do jogo, anúncios que dão para os dois lados - para a vitória e para a derrota.
Era bom que o país fosse governado por publicitários - assim, poderíamos mudar de governo sem mudar, mudar de governo sem eleições pelo meio. Um mundo perfeito!

Montanhas de ténis

No Montanha Mágica - residência habitual do bom gosto - fala-se de futebol, mas também se mostra bom ténis.

domingo, 4 de julho de 2004

Lição de vida

A Rita Lee acaba de cantar (em playback), no programa do Herman José (as coisas a que uma pessoa se sujeita...).
Como ela canta no último disco (Balacobaco): TUDO VIRA BOSTA.

Um ano

Um turbilhão de informação. Opiniões claras, controversas. Eis o Bloguítica.

Mudando de assunto

[rápido, rápido...]

Apesar de tudo...

...a festa destes dias foi bonita!

Futebol ?

Do que eu gosto mesmo é de ténis.

No hay forma de emborracharle

As coincidências são o que são. Umas indiscretas - aparecem quando menos se espera.
Duas horas após ter escrito aqui sobre Enrique Morente, pego no ABC espanhol, um jornal que NUNCA leio e... dou de caras com uma entrevista de Enrique Morente. Que fala da filha, Estrella, de mudar fraldas, do rock e do flamenco, de política. De Deus:
«Creía en él. Hace ya 30 o 40 años que no. Hay días en que me acuerdo de él. Me gustaría saludarlo. Querría tomar unas copas con él, pero no hay forma de emborracharle ao 'tío'. Pero tiene que haber sido un buen tipo.»

sábado, 3 de julho de 2004

Pequeño vals Vienes

O Luis fala-nos de Estrella Morente e do pai, Enrique, e eu lembro-me logo de um dos discos mais arrepiantes que alguma vez ouvi - Leonard Cohen e Lorca revistos pelo flamenco. E não vos digo mais nada.

Obrigado, senhor Mao

Nas vossas análises socio-filoso-políticas acerca da onda de patriotismo de bandeira à janela, não esqueçam - sem as fábricas e lojas chinesas, e os seus escudos cheios de pagodes, nada disto teria sido possível.
A eles, ao seu trabalho infantil, ao seu capitalismo de rosto comunista, ao seu desprezo pelas mais elementares regras dos direitos humanos, o nosso muito obrigado!
Quanto aos empresários portugueses - já sabem - bandeiras nem uma fizeram. Estavam entretidos a conspirar contra as eleições antecipadas. O trabalho deles é a política.

Eis o santanismo

O santanista Henrique Chaves acaba de se exaltar, na SIC Notícias, contra a «procissão» em Belém e o «tempo» que o Presidente está a levar para tomar uma decisão.
O jornalista (Ricardo Costa) teve que lhe lembrar que Durão ainda nem sequer se demitiu.
«Mas nós, além de dispensarmos eleições, até dispensamos a demissão de Durão. Nós queremos é o poder...», não disse, mas pensou, Chaves.

sexta-feira, 2 de julho de 2004

Não procures verdade no que sabes
Nem destino procures nos teus gestos
Tudo quanto acontece é solitário
Fora de saber fora das leis
Dentro de um ritmo cego inumerável
Onde nunca foi dito nenhum nome

Ânimo Galarzas

Às vezes, desopilo aqui. Às vezes, animo-me aqui. Há um ano que é assim. Pim. Olhem... parabéns! Pois.

Pergunta indiscreta

E tu, MacGuffin, gostaste do filme?

sophia, sereno adeus

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004).

Auto-retrato

16:12. JPP retrata-se (mas não se retracta...), assim. Homem só em paisagem difusa, quase natureza morta.

Ao som do Adufe

Os blogues trouxeram para um espaço mais ou menos mediático um conjunto de pessoas que, de outra forma, teriam mais dificuldade em fazem ouvir a sua voz. Algumas dessas pessoas cultivam o antiquado prazer da reflexão. O Adufe é um caso notório. Há um ano que o faz. Está de parabéns.

O amor ao partido

Segundo os relatos da imprensa de hoje, Manuela Ferreira Leite ter-se-á penitenciado de declarações mais duras feitas nos últimos dias e garantiu que ninguém pode pôr em causa o seu «amor ao partido».
O «amor ao partido». Esqueçam a Constituição, a estabilidade, a retoma, a credibilidade, o ciclo económico, a Pátria enfim. Que é isso perante o «amor ao partido»?

quinta-feira, 1 de julho de 2004

O mandar e o ganhar

Um popular ouvido ontem à noite pelas televisões, dentro de um carro ostentado as cores da bandeira, dizia: «Antes do jogo da Espanha, tirei o carro da garagem de disse para a rapaziada - pintem-no com as cores da bandeira para dar sorte».
É isso - o português popular seria incapaz de ganhar o campeonato da Europa. Prefere mandar ganhar.

Parem as audiências

Constitucionalistas, calai-vos.
«O responsável pela reestruturação do sector da pasta e do papel em Portugal, o empresário Jorge Armindo manifestou-se hoje, em declarações à agência Lusa, contra a convocação de eleições antecipadas».
Armindo a Belém, já!

Maus prenúncios

Jorge Sampaio acaba de anunciar - num directo SIC Notícias tipo twilight zone - que não tenciona ouvir Felipe Scolari sobre a crise política reinante. A seguir, recebeu a rainha Fabíola (!). Ignora-se se Sua Alteza se dirigiu a Belém respondendo ao chamamento de alguma SMS.

Nunca hei-de perceber

Nunca hei-de perceber: por que razão a malta da direita não grama os monárquicos.