domingo, 31 de agosto de 2003

Aí vai mail

Esta polémica com o Alfacinha teve um aspecto curioso. Desenvolveu-se publicamente, no blogue, e teve um epílogo privado, por mail.
É uma coisa que me tem acontecido com alguma frequência e que deixo aqui registada para quem queira analisar.
Como o Alfacinha, quase respondendo a um desafio meu, tornou público o mail que me mandou, vou fazer o mesmo. Apenas uma forma de contribuir para um eventual debate sobre a dualidade destas conversas:

É pena este mail não ser um post para eu poder concordar. Subscrever mesmo. Entre os vários textos que tenho na cabeça e afazeres complicados me impedem de escrever há um sobre as classificações políticas e as minhas oscilações na matéria. Basicamente, o que me disse no mail.
Noutra coisa concordo: o meu amigo é um realíssimo chato. Just kiddin...
Um abraço.

A fractura ideológica

Nos últimos dias, andei particularmente abespinhado com o Alfacinha. O que mais me irritava era que, sem eu perceber como, me estava a envolver numa das poucos discussões em que jurei a mim próprio não me meter no dia em que decidi criar este blogue - a fractura ideológica.
Acho, obviamente, que não pensamos todos o mesmo acerca das coisas básicas da vida e que, de alguma forma, nos podemos arrumar, mais ou menos ideologicamente, em tribos. Daí, a inevitável catalogação.
Penso, porém, que hoje em dia esse tipo de catalogações são meramente retóricas, pouco operacionais. Quero com isto dizer que, talvez devido à queda do Muro e etc, esgotou-se de alguma forma a carga pragmática dessas tribos. E esse tem sido o problema fundamental de toda a política na última década.
Acresce a tudo isto um facto ainda mais importante. Despojadas de um programa de acção, as tribos sentiram-se mais disponíveis para o convívio, para a interpenetração. A Terceira Via, Guterres e Blair, são o exemplo mais à  mão. É (era?) aquilo esquerda? Direita?
Dito isto, convém não arrumar definitivamente a questão. Em alguns casos, ela é ainda altamente presente. Exemplo: Paulo Portas é, muito expressivamente, um tipo de direita, muito conservador. É impensável que parte (uma parte muito grande...) do PSD se reveja nele.
Digamos que, nos tempos que correm, convivem sem grande problemas as duas correntes. Gente que radicaliza discursos, à direita e à esquerda, e gente que passa bem sem jargões.
Isto é o que penso sobre a matéria. Cujo debate, repito, não me seduz particularmente.

sábado, 30 de agosto de 2003

Cohen forever

Gosto do Retorta porque tem por divisa Rust Never Sleeps e isso chegava. Mas acontece que também gosto das fotos. E daquela queda, diria arqueológica, para desenterrar ícones de coisas das quais vamos falando. Uma capa de disco, uma imagem, um livro.
Como fez agora com uns livros sobre música. Há umas décadas (!?), também eu comprava tudo o que falava de música. A Música & Som e aquele livro do Rolf-Ulrich Kaiser são-me familiares.
Já não concordo quanto ao que escreve sobre Leonard Cohen. Gosto de todo, não de forma igual, claro. Por exemplo, a dupla I'm Your Man e The Future (88-92) são das melhores coisas que conheço. Estão lá as letras de LC, com uma utilização de sonoridades fortes, electrónica e coros femininos (aqueles coros, meu Deus...). Quanto ao último Ten New Songs, não gosto tanto. É repetitivo e nota-se em excesso o dedo de uma senhora com quem ele agora colabora. Más companhias...

Médio Oriente - cena da vida real

Gaza, 30 Ago (Lusa) - Uma menina palestiniana de oito anos morreu hoje após ter sido atingida por tiros de soldados israelitas no campo de refugiados de Khan Younés, no sul da faixa de Gaza, revelaram fontes médicas palestinianas.
A menina, Aaya Mahmoud Fayaad, foi atingida por balas disparadas por soldados a partir de um miradouro localizado na fronteira da colónia judaica de Névé Dékalim, próxima do campo de refugiados, indicou a mesma fonte.
Com esta morte, eleva-se a 3.440 o número de pessoas mortas depois do início da Intifada, no final de Setembro de 2000, dos quais 2.579 palestinianos e 800 israelitas.
A fonte palestiniana disse ignorar as razões que levaram os soldados a abrir fogo.
Contactado pela AFP, o exército israelita afirmou que não estava em condições de confirmar ou desmentir a ocorrência dos tiros. FIM.

Dificuldades

Decididamente, a corrente não passa entre este cantinho e o Alfacinha. O que eu escrevi é que não vejo diferença entre um blogue que recorre ao anonimato para lançar a confusão e os que, sob a capa do mesmo anonimato, fazem exactamente o mesmo nos jornais. Ou seja, indignado já eu andava. O que, em última análise, é uma crítica mais aos media tradicionais que aos blogues.
Quanto às questões mais políticas, sinceramente, deito a toalha ao chão. Não é isso que me importa debater, não levo isso demasiado a sério. Falo em direita, esquerda, conservadores, liberais, mais por facilidade de referência do que por necessidade de catalogação. Não levo essas coisas muito a sério.
Obrigado pelo Robert Wyatt. Vou aproveitar para ouvir o resto do disco.

Plantar couves e apanhar pinhas

Estava eu a reler o Escrítica Pop, do MEC, e as suas «Bolas para o pinhal» de boa memória e lembrei-me de ir apanhar umas pinhas a Mação. Infelizmente, pinhas havia poucas porque os incêndios assassinaram o pinhal. Acabei a plantar couves com o Colaço. Pudessem os nossos sábados ser (todos) assim.

Uma dose de cerejas

As conversas são como as cerejas e, pelos vistos, meter a Joni Mitchell ao barulho até foi boa ideia. Aí vai, portanto, uma dose de cerejas, agora que é sábado de manhã e a blogosfera lusa dorme o sono dos justos.
O MEC. Aí concordo com o Comprometido Espectador. E digo mesmo mais: acho que os vários MEC que surgiram depois do Se7e são imitações. No Indy, no Expresso, na blogosfera... Como prova a meu favor apresento o livro O Amor é Fodido. O genial MEC do Se7e nunca escreveria uma parvoíce daquelas. O Escrítica Pop é uma pérola. Vale bem uma busca aos alfarrábios. É o que vou fazer à procura da tal segunda edição do livro francês.
O Canadá. Sinto-me atraído por aquele verde todo, aquela organização, aquela paz. Mas, ao mesmo tempo, isso assusta-me. Acho que um dia vou ter de experimentar. Depois conto... se os blogues se aguentarem mais uma décadas.
Os elevadores. O Homem-a-Dias e o Comprometido deixam no ar uma certa aversão a elevadores. Não precisarei de lhes recordar Hollywood em abono das potencialidades dos ditos.
Sinatra. Tenho Dias. É pessoa por quem não me sinto Comprometido.
Políticas. Ai de mim. Meti a Joni Mitchell, porque vinha no fio da conversa, num texto sobre política e o Alfacinha levou-me excessivamente à letra. A sua reacção um tanto exaltada (se calhar, culpa minha, que fui ligeiro de mais na abordagem a um dos temas mais caros da blogosfera...) ao meu texto acaba por confirmar as minhas suspeitas e as conclusões originais dos cientistas de Berkeley acerca das motivações das pessoas com pensamento de direita (utilizo esta expressão para simplificar). Depois, há todo um debate sobre patologias e leituras comparadas de textos que nos levaria longe. Ando por aqui só há dois meses, mas já percebi que cada qual arranja sempre uma citações (se forem de tipos americanos, tanto melhor) que corroboram sempre qualquer teoria. Desconfio mesmo que há uns fulanos dos states que se dedicam exclusivamente a fazer textos para serem citados nos blogues.
Justiça. Leiam o Mata-mouros e rendam-se às opiniões mais sensatas que por aí andam sobre a Casa Pia.

Ainda Joni

O Homem-a-Dias deixou-me um bocadito à nora.
Isto porque refere um ensaio do MEC em que se fala de Joni Mitchell e eu tenho o livro, mas não o ensaio. O livro, esse que tem uma citação de Karl Marx (!!!) a abrir, é uma edição de 1974 (insisto nos !!!) e tem o Elvis na capa. Também é da Regra do Jogo, pelo que presumo que ag se esteja a referir a uma reedição que me escapou. Domage.
No entanto, já que estava com a mão a jeito, acabei por tropeçar num texto do MEC sobre o álbum Mingus (no Escrí­tica Pop), em que se fala de arrojo e da incessante busca da perfeição. E da eterna briga entre coração e razão que me parece ser a marca mais forte da sua obra.
Apesar de tudo isto, concordo com o Homem-a-Dias quanto à excelência (superioridade, se quiserem...) de Leonard Cohen. Até gosto do Death of a Ladies' Man (77), a meias com Phil Spector, muito mal gravado, com um som péssimo, que a crítica se encarregou se arrasar. Há ali uma beleza muito triste que me fascina terrivelmente.
Ainda me apetecia partilhar com o Homem-a-Dias o ódio ao peru, esse bicho estúpido que alguém, eventualmente mais estúpido, achou que é comestível. Nunca percebi, de resto, se o peru é um bicho autêntico, natural, digamos assim, ou se foi inventado por alguém completamente desprovido de gosto.
Só não me alongo mais sobre o peru porque o ag diz-me que é coisa de americanos e eu até já tenho medo de falar deles por estas bandas. Há sempre um ou dois cowboys estrategicamente colocados e prontos a disparar quando se toca no sagrada pátria do Tio Sam.

Justiça, mentiras e indignações

Peço desculpa, mas não partilho da indignação que por aí anda acerca de um blogue com umas histórias do processo Casa Pia.
Não é pelo facto de aquilo se limitar a reproduzir um papel que circula pelos jornais há duas semanas. Nem de prometer agora uma lista de cem perguntas que li ontem fotocopiadas.
É pelo simples facto de, neste processo Casa Pia, já ter assistido a tudo.
De, ao longo de meses, ter visto autênticos assassinatos de carácter, julgamentos sem regras, lama atirada criteriosamente para cima de certas pessoas, falsas e patéticas indignações, hipocrisias várias.
E tudo impresso em letra de jornal, garrafal, para que todos lêssemos. E a abrir e a fechar telejornais, para que ninguém deixasse de ver. E tudo baseado em fontes muito credíveis, mas sempre anónimas.
Sinceramente não percebo qual a diferença entre o papel (ou o blogue) anónimo e centenas de notícias aviltantes que me passaram pela frente nos últimos meses.
É por isso que não percebo esta indignação.

sexta-feira, 29 de agosto de 2003

Play me John Coltrane

Flirt with me don't keep hurtin' me
Don't cause me pain
Be my lover don't play no game
Just play me John Coltrane


Righteously, Lucinda Williams, World Without Tears (2003).

Diálogo com hesitações

- Jotinha, amor, estás pensativo?
- Não sei que faça...
- Fazer o quê? Não percebo.
- Não sei se escreva sobre a Joni Mitchell, o leite UHT, a fractura ideológica...
- Olha, dá-lhes música.

[Instruções: primeiro clica-se aqui, depois escolhe-se Music, a seguir escolhe-se a música em versão HI (banda larga - melhor qualidade) ou LO (banda estreita - pior qualidade].

Uma Hipótese Terrível

O leitor Luís Bonifácio escreve-me um mail sobre Joni Mitchell. Diz que gosta mais da Joni de plenos anos 70 e aí concordamos. Pede-me uma ajuda sobre DVD, a que antecipadamente já respondi.
E fala-me do leite que bebia, quentinho acabado de sair da vaca. Diz que não sabe o que quer dizer UHT (Ultra High Temperature - um processo de pasteurização) e, por isso, inventa uma expressão deliciosa - UHT igual a Uma Hipótese Terrível. Por causa disso, não bebe.
Bom, por este andar, ainda temos à perna as cooperativas leiteiras a processarem-nos por tentativa de arruinar o sector. Ou a Defesa do Consumidor a explicar-nos que este leite UHT é que é. Muito mais higiénico e sujeito a rigorosos controlos de qualidade. Tetas. Perdão, tretas.

Direita/esquerda, uma patologia

O sentimento de instabilidade na sociedade, o medo da morte, a intolerância face à ambiguidade, a necessidade de reclusão, uma baixa complexidade cognitiva e um sentimento de ameaça são os factores que levam as pessoas a optarem politicamente pela direita.
Não se ofendam. Isto é o que dizem uns cientistas americanos, na edição de ontem do Washington Post.
É claro, se não quiserem entrar no debate sobre Joni Mitchell, poderemos sempre discutir porque é que tantos blogues apresentam uma «baixa complexidade cognitiva». Ou porque é que outros revelam uma tão grande «intolerância face à ambiguidade». E porque haverá outros que não têm medo da morte.

Joni (contributos)

Sobre Joni Mitchell circulam alguns equívocos. Ela não é a loura hippie que alguns pintam, mas também não é a fria jazzy lady que outros conhecem.
A obra poética e a construção musical de Joni Mitchell são das mais complexas do mundo pop/rock. O DVD Woman of Heart and Mind, apesar das limitações das autobiografias, ajuda a entender essa complexidade.
Ninguém é, obviamente, obrigado a gostar. Mas as últimas horas renovaram-me a fé na blogosfera. Ninguém é obrigado a gostar, mas podemos trocar umas ideias sobre o assunto. Foi o que fizeram (peço desculpa aos que não detectei) o Retorta (que aproveita para publicar umas belas fotos de capas), o Homem a Dias (que recomenda o Blue), O Comprometido Espectador e o Contra a Corrente.

quinta-feira, 28 de agosto de 2003

Joni (parte III)

O debate sobre Joni Mitchell está a aquecer. Depois do Francisco ter dito que a acha «insuportável», o Cerco do Porto, ainda para mais um dos meus blogues de todos os dias, radicaliza a coisa e diz, simplesmente: «Caguei.»
Só lhe perdoo, porque concorda comigo quanto ao leite UHT.

Uma polémica sobre Joni

Pronto. É sempre assim. Uma pessoa tenta lançar uma polémica civilizada e vem logo alguém com radicalismos. Eu só queria debater a actualidade de Joni Mitchell, se «perdeu a graça». Mas o Francisco escreve logo, no Aviz, que a moça é «insuportável». Com radicalismos destes é impossível discutir seja o que for...
Enfim, como acho que os gostos de discutem - olá se se discutem - e até se cultivam, prontifico-me a aliviar uma das noites de insónia do Francisco com uns discos (e um DVD...) da Joni. Se ele levar umas cervejas geladas, eu prometo não aparecer com uns pacotes de leite UHT.

O leite UHT

A bilha do leite circulava pela aldeia ao fim da tarde. Só havia uma vaca e o precioso líquido era distribuído pelas casas com filhos em crescimento e com posses para o pagar. A minha mãe recolhia-o numa pequena bilha de alumínio, um objecto a que perdi o rasto. Às vezes, a mãe dizia: «Hoje, o leite foi benzido». Queria ela dizer que a vaca tinha preguiçado e a dona acrescentara um pouquinho de água.
Não voltei a encontrar aquele sabor, aquela espessura. Nem nas pequenas garrafinhas de Vigor que depois descobri na grande cidade.
Foi ainda na aldeia que provei o primeiro leite pasteurizado. Vinha em embalagens em forma de pirâmide, meio litro, de uma fábrica em Portalegre.
As embalagens evoluiram para o paralelepípedo, incharam, chegaram ao litro, cheguei a ver de litro e meio. E depois vieram os meio-gordos e os magros. E o médico, «com a sua idade e este colesterol, o melhor é beber magro...»
O leite UHT nunca me devolveu o sabor, a consistência, do leite da minha aldeia. Nem aquele mais caro, cheio de vitaminas, muito puro, de vaquinhas seleccionadas. Por isso, compro do mais barato. Rectifico, por uma questão de precaução compro do segundo mais barato, sempre desconfiei das farturas.
Mas o leite UHT nunca me sabe ao mesmo. Uns dias sabe a leite, outros nem por isso. Nos últimos tempos, dou comigo a repetir a minha mãe: «Este leite foi benzido». Quer dizer, este leite foi feito com leite em pó.
Nunca soube o que aconteceu à vaca da minha aldeia. Se se reformou voluntariamente, se morreu lentamente de tristeza.

Outras polémicas

Escrevo sobre Israel e caem-me em cima. Escrevo sobre a Casa Pia e dão-me nas orelhas. Falo sobre jornais e ai Jesus.
Mas escrevo sobre a Joni Mitchell e todos concordam. Cito Brel e ninguém contesta. Falo do Zeca Baleiro e nem uma ponta de polémica. O Neil Young, esse, é universal.
Ninguém me diz que a Joni há muito que perdeu a graça. Que o Brel é uma coisa, assim, um bocadito de outro tempo. Que o Zeca é só uma moda. E que o Neil é tara minha. Nada.
Porque será que umas coisas geram tanta polémica e outras não?

Obrigado ao Retorta e ao Tempo Dual pelas atenções musicais via mail.

Flashback (in memoriam)

- Lembras-te, Jotinha?
- Flash...
- Anh Anh...

quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Marte já era

Parece que Marte já passou perto da Terra.
Acabo de confirmar isso olhando para um parceiro novo que apareceu hoje no escritório.
Desde o almoço que não consigo tirar os olhos de uma pequenina antena que lhe sai de uma orelha. Sim, daquela orelha que o fulano tem na nuca.

Ideia genial !

Desta nem a dra. Manuela se lembraria.
O governo francês propôs a supressão de um feriado nacional para, com as receitas arrecadadas nesse dia, pagar os cuidados com a terceira idade.
Eis o capitalismo no seu esplendor. Ainda para mais, copiando uma ideia portuga e esquerdóide. A caridadezinha como forma de Governo.
Por cá, talvez nem funcionasse. Com a produtividade que apresentamos, cada dia feriado é lucro para o país.

Sustos

Marte está a chegar. Mas que é isso perante a aproximação do julgamento da Casa Pia?

Polémicas e chafurdices

Agradeço ao Jaquinzinhos a foto da Ria Formosa a caminho do Barril. Gosto muito das fotos do jcd. Dos textos só não gosto porque estou (momentaneamente?) cansado destas polémicas em que repisamos argumentos. Qualquer dia, volto ao normal e meto-me com o Jaquinzinhos.
Aproveito a oportunidade para avisar o cavalheiro (ou a dama...) que aqui chegou fazendo uma busca sobre «chafurdices» no Sapo que não repita a graça. Obrigado.

A vida, os amores

Maybe I've never really loved
I guess that is the truth
I've spent my whole life in clouds at icy altitudes
And looking down on everything
I crashed into his arms
Amelia, it was just a false alarm.


Nos últimos dias, tenho andado às voltas com estes versos escritos por Joni Mitchell, em 1976.

terça-feira, 26 de agosto de 2003

Diferenças de opinião

You were born to rock.
You'll never be an opera star. (Re-ac-tor, Neil Young)

Velvet invasion

Vi a última compilação dos Velvet Underground numa loja. Chama-se The Very Best Of e deve ser praí o 34.º disco com os melhores momentos de uma das mais meteóricas e marcantes bandas rock.
Este tem na capa um curioso autocolante. «Inclui I'm Sticking With You do anúncio TV da Hyundai». Acho que é essa a música.
E eis como, após terem comprado algumas das maiores companhias de discos dos states, os orientais começam também a comprar o nosso imaginário. Uma marca coreana de automóveis substitui, no universo VU, a velhinha lata de tomate da Campbell, a banana...

Rumsfeld, inefável Rumsfeld

Donald Rumsfeld e Condoleezza Rice acabam de elevar o pós-guerra no Iraque a novos patamares. Agora, fazem comparações com os nazis. Como se sabe, Hollywood, esgotado que ficou o paradigma cowboy/indio virou-se depois para a World War II. Nada melhor que um nazi para personificar o mal. Deve ter sido isso que pensaram os spin doctors no último brain storming da Casa Branca.
Ainda não consegui confirmar totalmente esta história, porque os serviços competentes estão a dormir. Li-a aqui, o que não é de confiança.
Os escribas nacionais devem, porém, começar a mudar os chips dos respectivos portáteis. Devem deitar fora aquele onde a libertação do Iraque é sistematicamente comparada ao 25 de Abril e introduzir o que põe no mesmo plano os ataques dos nazis e a malandragem iraquiana. Os que, conceptualmente falando, não conseguem separar os states de Israel e têm, compreensivelmente, resistência a enxovalhar assim o Holocausto, devem permanecer silenciosos e aguardar instruções directas e secretas do Pentágono.
Enquanto esperam, podem ir aqui (sim, é da BBC) e aqui (bolas, é americano) e divertirem-se à grande (mas não à francesa, por amor de Deus...) com estes ditos históricos do sempre pândego Rumsfeld.

Fenaque

Antes que alguém me catalogue na categoria dos blogo-excluídos, aí vai a minha opinião sobre a FNAC
A que frequento é a do Colombo. Não tenho pelos centros comerciais qualquer aversão ou fascínio. Simplesmente moro perto e dá-me jeito aquela quantidade toda de lojas.
No Colombo, o principal ataque à minha carteira vem da zona dos discos. No departamento de gadgets electrónicos a minha carteira limita-se a constatar a sua insignificância. Para livros, prefiro, no universo Fnac, a do Chiado. Tem mais e melhor.
A Fnac ajudou a uma certa massficação cultural, pela quantidade, pela qualidade, pelos baixos preços, mas, principalmente, pelo conceito. Estamos num mero hipermercado, com a sensação de percorrermos as salas de um museu.
Apesar disso, está longe, muito longe, do que que gostaríamos. Ou merecemos.
Na música, por exemplo. Ando desde o início do ano (!) para comprar o último disco dos Flaming Lips (tenho uma cópia pirata, gostaria do original...). Mas não consigo, apesar de este ter sido considerado um dos discos do ano (de 2002...) por várias revistas especializadas.
Música ainda. O Zeca Baleiro, um dos melhores do Brasil actual, esteve há dois ou três meses em Portugal para promover o seu último disco e volta agora para um concerto. Mas tentem lá comprar a sua discografia completa na Fnac. E, atenção, são apenas três ou quatro discos...
E os livros. A prateleira da Margarida Rebelo Pinto e heterónimos está sempre repleta e actualizada. Mas do Brasil temos direito a alguma coisa? Ou só a duas ou três banalidades?
Livros ainda. Já repararam no pó (simbólico) que se acumula nas prateleiras dos ensaios de política e filosofia, por exemplo. Há livros que estão em exposição há meses. Sempre os mesmos. Podiam, por exemplo, estar mais atentos aos tops lá de fora. Acho que não iam ter razões de queixa.
Tirando estes e mais dois ou três pormenores, a Fnac ainda é do melhorzinho...

segunda-feira, 25 de agosto de 2003

And now... some quotes

Parece que citar coisas de que gostamos, ou com as quais concordamos, é um dos passatempos favoritos da blogosfera.
A propósito de uma polémica sobre Israel em que me meti há uns dias, e sobre a qual nada mais tenho a dizer (por enquanto..), li hoje na Economist umas frases interessantes (é de sexta-feira, mas tenho tido mais que fazer...).
A revista preferida de 11 em cada 10 conservadores (eu também gosto muito...) puxa as orelhas a Israel sobre os últimos acontecimentos por aquelas bandas e aconselha a Casa Branca a pôr os seus amigos na ordem. Como era, precisamente, isso que eu queria dizer, poupo-me a mais esforços:
[texto integral aqui]

In Palestine, worse than it looks
In Iraq, the case for optimism is that most Iraqis are liable to withhold their support from the jihadis because most of them are still willing to believe that the Americans mean it when they say they intend eventually to leave. In Palestine, for all the fine words of George Bush and the “road map” about the imminence of an independent Palestinian state alongside Israel, almost no Palestinians expect Israel voluntarily to give up the West Bank and Gaza to make this possible.

Whose fault is that? The blame game in Palestine has revolved in circles both vicious and tedious for more than a century. In this present round, neither side emerges with credit. Israel complains that although the road map calls plainly on the Palestinian Authority to disarm and dismantle the terrorist groups, it has failed to make any serious effort to do so. The Palestinians retort that this would plunge them into a civil war at a time when Israel gives no serious sign of being willing to freeze, let alone dismantle, the Jewish settlements that have spread through the occupied territories since 1967 and obstruct the emergence of a free Palestine.

This, alas, is not just a matter of Israel failing to get its message across. Many members of Ariel Sharon's ruling coalition oppose the idea of an independent Palestine and say frankly that they will do whatever they can to thwart it. America needs to make it plain that these Israelis will not get their way. It is right to denounce outrages like the one this week in Jerusalem. But if America is to build a new Middle East it must give the Palestinians the same hope as the Iraqis that foreign military occupation really will soon come to an end.

Diálogo com Marte a rondar

- Então, fofo, compraste um telescópio?
- É para ver Marte...
- Pois. De Vénus já me tens a mim.

Blogues aos molhos (com molho...)

1. E a quantidade de... ingénuos que cairam nesta?
E se alguém decide criar um blogue que tenha na descrição «Um blogue de José Pacheco Pereira»?
E se alguém decide criar um blogue chamado «Catherine Deneuve»?
Já repararam, inteligentes e cultí­ssimos que somos, como confiamos cegamente numa tecnologia e em empresas que desconhecemos?
2. Não posso deixar de me manifestar solidário com o Valete. Então não é que não consegue encontrar por aí­ uns textos menos agradáveis para Sérgio Vieira de Mello, esse serventuário da diabólica ONU? A qual, como se sabe, fala francês e é dona da BBC...
3. Ao Mata-mouros, um agradecimento sincero. E um prémio, o do fair-play bloguístico.
4. No Jaquinzinhos do que eu gosto é das fotos. Especialmente as de Tavira.
5. O Colaço voltou a ter um ataque de complexo de inferioridade. É mesmo só complexo, passa-lhe.
6. E agora o primeiro grande equívoco da blogosfera nacional. E envolvendo uma troca de sexos (o que isto me vai ajudar no site meter...). O NMP, do Mar Salgado, esvaneceu-se com a chegada da Vanessa (desculpa lá Ana, é só por causa da figura de estilo...). Acontece que não conseguiram criar um nickname para a Ana e, por isso, ela assina ASL, a negro, com o nickname do JPH. Isto levou a que o FNV, do mesmo Mar Salgado, tenha feito um texto em que trata a ASL por JPH. De partir o côco.
7. Foi por culpa do JPH que conheci um novo blogue bem interessante. Tem um título desconcertante. Para mim tanto faz. E escreve, acutilante e bem informado, sobre jornais e arredores. É anónimo, mas diz que é só porque ninguém lhe pergunta o nome. Pronto, pergunto eu, o jmf.
8. O Liberdade de Expressão regressou de férias. Um pouco em baixo, diga-se. Ou é impressão minha ou ainda não conseguiu elaborar um daqueles textos numerados provando que os fogos deste ano são culpa do Ferro Rodrigues. Ou do Rendimento Mínimo Garantido.

IP 6 (o regresso)

De Abrantes a Lisboa, há o IP 6 e a A 1.
Ou há a estrada velha, que nunca soube como se chama. É por aí que voltamos. Por onde as chamas andaram este Verão.
Da Chamusca a Alpiarça, havia uma das estradas mais frescas da região - um túnel de árvores. Hoje, há um impregnante cheiro a fumo. Pelas colinas em redor, desconhecendo estradas, riachos e quase os limites de vilas e aldeias, só os tons de ocre, castanho, preto. Dizem-me que de Abrantes para cima, pelo menos até Castelo Branco, ainda é pior.
Passo por ali e penso nas discussões que por vezes aqui temos, por exemplo sobre questões internacionais, e quando alguém deixa cair: «Pois, é fácil dizermos tudo isto, discutir assim, ter estas opiniões, porque não estamos lá, a sofrer tudo na pele».
Passar por ali, quando tudo é já cinza, não é estar lá. Não é sentir nada na pele. Passar por aqui obriga-me a um silêncio ainda mais pesado.
Apenas uma pergunta. Antes disto, alguém tinha pensado naquilo? Antes de tão grande tragédia, alguém, nas últimas centenas de anos, se preocupara em estruturar, prevenir?
E apenas mais uma pergunta. E agora? Alguém vai preocupar-se?

IP 6

Domingo à tarde no IP 6. Hei-de chamar-lhe A 23 quando tiver portagem.
Pensamento:
Se um dia houver combate a sério à evasão fiscal em Portugal, os concessionários da BMW vão pedir um subsídio para mudança de ramo.

domingo, 24 de agosto de 2003

Fino abrupto

O Abrupto acha mal que a RTP tenha mandado Carlos Fino para o Iraque. Eu acho que o Fino é apenas uma voz do coro de catastrofismo exacerbado que impera nas televisões. Sobre o Iraque, os fogos, a pedofilia, a vida.
O Iraque é um palco fácil para exercer essa esquizofrenia. Pena que o Abrupto só se indigne quando o exagero é de um dos lados. Ao exagero de cor oposta, presumo, chamará objectividade.

Jaquinzinho de corrida

Sugeri, completamente de borla e plagiando a Economist, que os blogues de inspiração liberal aproveitassem para facturar. O Jaquinzinhos acha que o estava a mandar à bola. Ele foi e gostou. Mas eu não o estava a mandar embora. Eis o resultado das leituras apressadas. De corrida...

Perplexidade

João Pereira Coutinho era um dos autores da Coluna Infame, um dos blogues fundadores.
Zangaram-se e cada um foi para seu lado. O Lomba continua a blogar, o Mexia faz que bloga mas não bloga.
O JPC anunciou que vai fazer um site e há várias semanas que alguns blogues têm um link apontado para lá. Para o vazio, que o homem tarda em aparecer.
É o fascínio pelo vazio. A fixação pelo vazio. Quando ele começar a escrever, o fascínio manter-se-á, intacto. Independentemente do que ele escrever.

sábado, 23 de agosto de 2003

Que ideia!

O mundo das pequenas curiosidades sempre me fascinou. Esta, apanheia-a no Financial Times. Não tem link, é a pagar.
Chamou-me a atenção porque, na primeira página, dizia-se que é um sucesso editorial superior ao Harry Potter.
É o catálogo da Ikea, uma loja de móveis e decorações.
Em todo o mundo, são distribuídos 130 milhões de catálogos, o que o transforma na maior publicação grátis do mundo. Se fossem todos amontoados, subiriam 1300 quilómetros céu acima.
46 versões, em 36 países, em 28 línguas. As versões europeia e americana têm 360 páginas e pesam meio quilo.
Cada catálogo tem 3000 produtos, um terço da oferta da marca. Os produtos que surgem no catálogo vendem duas a três vezes mais que os outros.
Na Suécia, terra natal da Ikea, cada lar recebe um catálogo. Os correios contratam gente a mais na altura da distribuição. Na Grécia, não cabe nas caixas do correio e fica pendurado na porta. Na Malásia, tem uma embalagem especial contra a humidade.
A produção de cada catálogo prolonga-se por 18 meses. A maioria dos modelos são empregados da casa.
A estratégia da empresa é simples: a primeira vez que uma casa recebe o catálogo pode deitá-lo fora, à segunda já se folheia, à terceira vai-se à loja embora possa não se comprar nada.
E agora digam lá: qual é o blogue onde podem aprender tantas coisas absolutamente indispensáveis à vossa felicidade?

Shabbat

Vejam a ignorância. Escrevi sabbath e é shabbat.

Israel (uma pausa)

Não é pelo sabbath de hoje, nem pelo domingo de amanhã. Como não foi pela sexta-feira de ontem. Mas, se os meus caros interlocutores não levarem a mal, faço uma pausa na polémica sobre Israel e os palestinianos.
O essencial terá ficado dito. Nunca esperei convencer ninguém, também não esperava ser convencido.
Em alguns dos casos, sinto que o que nos divide são apenas as palavras. O que (eu sei...) não é pouco. Noutros casos, há, de facto, concepções diversas do mundo. Felizmente, aqui neste canto geográfico, ainda vamos conseguindo conversar.

Mexe Merche

Agora que o Cerco do Porto me ajudou a livrar-me da mana do futebolista, eis que outra moça garbosa se perfila no horizonte. Não, ainda não entrou nos motores de busca. Mas esta semana não encontrei um jornal, revista ou aparentado (passe o exagero, claro...) que não tenha uma conversa, uma foto, uma biografia de Merche Romero. Pois, também não sei quem é. Porém, depois do que li hoje no Correio de Manhã, fiquei entusiasmado. Quando lhe perguntam qual o seu jornalista preferido, responde taxativa: «Todos».

Israel (uma achega)

O New York Times, jornal americano frequentemente simpático com Israel, escreveu ontem em Editorial:

Israel's assassination of one of Hamas's leaders seems counterproductive. Mr. Abbas and his security chief, Muhammad Dahlan, were clearly shaken by the terrorist attack in Jerusalem, and they had vowed to pursue the perpetrators. By taking pre-emptive action, the Israelis not only gave Hamas an excuse to rouse its faithful to more violence, but they also undermined Mr. Abbas's plans and leadership. [texto completo aqui]

Não estou só.

Israel III

Que eu tenha detectado, o Aviz, o Contra a Corrente, o Mata-mouros, o Mar Salgado e o Para Mim Tanto Faz pronunciaram-se directamente sobre o que aqui escrevi. Registo, antes de, o tom civilizado do debate.
Com a discussão se alargou, gerou-se um ou outro equívoco e saltaram para a arena novos sub-temas. Confesso que, pela minha parte, continuo com as mesmas inquietações com que comecei esta conversa.
Sobre este tema poderia ter o discurso piedoso de lamentar poeticamente os mortos ou de bradar que temos de persistir na luta contra o terrorismo. Coisas com as quais todos estamos de acordo. Dêem-me o benefício da dúvida, de questionar em vez de alardear certezas. Sem hipocrisia.
Dito isto, vamos à substância, com algumas recapitulações e outros passos em frente.
1. Nunca, nunca mesmo, me passou pela cabeça colocar no mesmo plano o governo de Israel e os terroristas palestinianos.
2. Nunca me passou pela cabeça, nunca, não condenar qualquer acto terrorista. Em Israel, Bagdad, ou Espanha. Onde quer que que seja.
3. Não foi por acaso que o meu texto sobre o tema tenha sido após a morte de um dirigente do Hamas considerado moderado. Porque o que me interessa discutir é a resposta ao terrorismo e não o terrorismo. Interessa-me debater aquilo em que temos opiniões divergentes e não repisar banalidades.
3. O Aviz mostra-me imagens de terrorismo e diz-me que aquilo é a guerra. Mas, Francisco, era aí­ mesmo que eu queria chegar. Porque eu não sei onde acaba uma coisa e começa a outra. Ao ponto a que as coisas chegaram no Médio Oriente, espanto-me que alguém saiba.
4. Porque, por exemplo, o Alfacinha diz-me que Israel desenvolve uma guerra justa contra um inimigo. E diz-me que os radicais palestinianos são terroristas e não fazem a guerra, porque a guerra é sempre contra alvos militares e não civis. E eu digo que a lógica disto é uma batata. Então os palestinianos são terroristas quando atacam e militares quando atacados?
5. E depois há o Hamas. O Hamas não é «uma organização terrorista. Ponto», meu caro CAA. O Hamas tem real peso na sociedade palestiniana. Gere escolas, centros de assistência, controla mesquitas. Não viu os milhares que se juntaram para o funeral do tal dirigente? Não estou com isto a conferir qualquer legitimidade ao Hamas. Estou apenas a constatar, repito, constatar, que o Hamas está profundamente enraizado na Palestina. Ou seja, o Hamas não é um conjunto finito, como eram as nossas Brigadas FP-25. Não basta matá-los ou prendê-los todos. Não é possí­vel.
6. Dizem-me que não se pode dialogar com terroristas. Mas na Irlanda do Norte dialogou-se. No Paí­s Basco, intermitentemente, de forma muitas vezes encapotada, dialoga-se.
7. E chegamos ao road map. É mais uma oportunidade que está a ser perdida. Só que, se fosse outro o comportamento do governo de Israel, poderíamos sempre dizer que o road map tinha sido rasgado pelos palestinianos. Assim, ele está a ser espezinhado por ambas as partes. A legitimidade moral conta muito nestas coisas. De outra forma é a barbárie.
8. O papel dos moderados. O road map parte do princí­pio de que só pelo diálogo, pela dissusão, é possí­vel fazer a paz. Daí­ a importância de encontrar moderados em ambas as trincheiras. Porque é que se aceita que do lado israelita as coisas sejam comandadas por falcões enquanto se exige aos palestinianos que sejam pombas?
9. Por vezes, fico com a impressão de que em Portugal gostamos de nos armar em radicais de capoeira. Galarotes. Estamos sempre prontos para uma luta de galos. Principalmente se nada tem a ver connosco. Neste tipo de questões há que ser pragmático, sem abdicar dos princí­pios. Ontem, Colin Powell apelou directamente a Arafat para desarmar o Hamas. Há um ano que os EUA faziam de conta que Arafat não existia. Mas a verdade é que ele esteve sempre lá, mexendo os cordelinhos. Ele não deixa de existir por nós fingirmos que ele não existe.
Por agora, basta.

sexta-feira, 22 de agosto de 2003

O regresso de Fino

Carlos Fino já está de novo em Bagdad. A guerra pode recomeçar.

George W. precisará de termas?

O Valete Fratres voltou. Agora sim, nós que temos dúvidas sobre tudo e mais alguma coisa, incluindo, oh sacrilégio!, os clarividentes caminhos de George W. e companhia, temos um interlocutor à altura. Nada de imitações. Imaginem que o Valete foi às termas e voltou em plena forma. Até já considera a BBC World porta-voz dos árabes. Bem vindo, pois.

Sagrado Saramago

Numa livraria de Lisboa, tropeço num livro de Saramago em papel Bíblia. Saramago em papel Bíblia!

Piu, piu

Agradeço ao pintainho as referências elogiosas feitas a este blogue.

Israel II

O Jaquinzinhos, o Abrupto, o Alfacinha (foi os que vi até agora) escreveram sobre Israel e, de uma forma ou de outra, tocaram em dois ou três pontos que me interessa discutir. Serenamente. Só para tentar compreender.
1. Há quem argumente que os palestinianos fazem terrorismo e Israel desenvolve acções de guerra. Eu não consigo entender como consegue Israel desenvolver sozinho uma guerra. Uma guerra, por definição, pressupõe, pelo menos, dois lados.
2. Há quem não consiga entender que, entre os radicais palestinianos, haja moderados. Agora é a minha vez de sacar de uma tirada recorrente neste tipo de debates: essa gente não percebe nada do problema. Os EUA perceberam e, por isso, afastaram Arafat de todo o processo e tentaram encontrar interlocutores válidos (Bush já recebeu Mazen na Casa Branca, bolas!). O road map, e convém lembrar que se trata de uma proposta dos EUA/UE/ONU/Rússia, prevê o desmantelamento das organizações terroristas. Em ponto algum esse desmantelamento passa pela aniquilação física dos seus membros. Isso seria (é!) deitar petróleo na fogueira. Acresce ainda que organizações como o Hamas gozam de mais simpatia entre os palestinianos do que muitos imaginam (até porque não são apenas organizações terroristas...). Por cada militante morto, outros se levantam. Em crescimento exponencial. No limite, toda a Palestina é do Hamas... A única maneira de lidar com o problema é pela vias democráticas, judiciais, do convencimento, da demonstração da inutilidade da violência. É isso que Mazen está a tentar fazer, com o apoio dos EUA e contra Arafat.
3. Israel tem no problema uma responsabilidade acrescida. A de se comportar de acordo com os critérios de um estado de direito. Como quer o governo de Sharon mostrar que a razão está do seu lado se usa o mesmo tipo de recursos dos terroristas? Um mundo de paz não se constrói erguendo muros contra os vizinhos que não gostam de nós. Constrói-se demontrando-lhes a cada oportunidade, mesmo que isso represente sacríficios e mais sacríficios, que a razão está do nosso lado. Que há uma maneira de, na diferença, nos entendermos. O comportamento de Sharon alimenta a espiral da violência.

quinta-feira, 21 de agosto de 2003

Israel

Dois depois de um louco terrorista ter feito explodir um autocarro cheio de crianças em Jerusalém, o governo israelita mandou matar com cinco mísseis um dos dirigentes mais moderados do Hamas. Quem o considerava moderado não era o José Goulão ou o Francisco Louçã. Eram os media americanos e o primeiro-ministro palestiniano, o único interlocutor válido para os americanos. E, na qualidade de moderado, era um dos dirigentes do Hamas com quem o governo palestiniano dialogava na tentativa de levar o movimento a abandonar as armas. Essa é, como se sabe, uma das condições essenciais para que o road map e a paz possam ter sucesso.
Pois foi precisamente esse o homem que Israel matou.
Eu, que nunca tive a mais pequena dúvida em condenar o terrorismo e que nunca chamei terrorista ao governo de Israel, gostaria de saber como classificar o que Israel fez ontem.

1316

Até agora, dizem-me as notícias, morreram em Portugal 1316 pessoas devido à onda de calor. Reparem na precisão: 1316.
Como se morre de calor? Parece que há modelos matemáticos. E eu, que vivo num paí­s que odeia a matemática, ainda mais me espanto. Com a precisão.
E continuo com a minha dúvida. Acho que, em casos extremos, se pode morrer de insolação, de falta de água, de choque térmico, de agravamento de certas doenças devido ao calor. Mas não imaginava que isso fosse tão exactamente mensurável em termos matemáticos. «Ó sô doutor, está aqui um cadáver, mas não sei se foi do calor, se foi do álcool em excesso... Aplicamos-lhe o modelo matemático?»
E outras dúvidas se levantam. Será que o frio também mata? E, já agora, o tempo ameno? Será saudável a monotonia climática?
Temo que esta seja mais uma daquelas questões bizantinas.
É certo que a estatística, a matemática, devem ser um instrumento de governação. Se morreu gente com calor, devem ser tomadas medidas para que isso não se repita. Mas não deixa de haver qualquer coisa de inquietante na precisão dos números. Dizem-me as notícias que os 1316 estão abaixo dos 2000 mortos esperados. A maldita da precisão não pára de me espantar.

Três memórias de férias

Férias é estares numa praia do Norte, dizerem-te que está ali o Pedro Abrunhosa sem óculos e tu nem sequer te moveres.
Férias é dizerem-te, num café de Afife, que o Durão Barroso comprou ali um terreno para uma casa de férias e tu nem sequer perguntares «Ai sim?»
Férias é serem 10 e meia da noite, viajares de carro num estrada do Minho e teres de esperar que a procissão passe.

Diálogo com ciúmes

- Jota, ainda me amas?
- Porque perguntas?
- Agora só falas de outras...

O encanto da espuma

E por falar em senhoras...
Ela estava em Vidago, pediu Vidago e deram-lhe Aquarel da Nestlé. O amor dela estava em Trás-os-Montes, pediu umas tapas e deram-lhe queijo de plástico. Soube dela por ele. Ele gosta mais dela como blogueira do que como escritora. Eu não a conheço como escritora, mas acho-lhe graça como blogueira.

quarta-feira, 20 de agosto de 2003

ASL

E pronto, o Glória Fácil lá contratou a ASL. Presumo que a sigla dispensa o nome (salvo seja) ou sequer apresentações. Como os fundadores são uns cavalheiros descuidados, esqueceram-se de lhe criar um nickname para a assinatura (e depois, como todos os cavalheiros sem escrúpulos, atiram-nos com as habituais desculpas técnicas...) e nem sequer lhe colocaram o acento no cabeçalho. Enfim... contrata-se uma estrela e nem do camarim se cuida.
O começo de ASL é desconcertante. Cita Fernando Nogueira. Que assim se junta a Nelson Rodrigues, Alexandre O'Neil, James Joyce, Ezra Pound e outros que tais usados pelos bloguistas para darem o tom daquilo a que vêm. Consigo encontrar em Fernando Nogueira alguns encantos e até nutro pelo homem alguma simpatia. Que diabo, até foi humilhado por Cavaco. Por isso, fico na expectativa.
ASL (re)começa com Casablanca. E aí a música é outra. Quando os afazeres profissionais e dois descendentes quase me retiraram das salas de cinema, em costumava gracejar, quando alguém me falava das fitas mais recentes, que o último filme que vira tinha sido o Casablanca... em estreia. Por isso, mas muito mais por outras razões, também é um dos meus filmes fetiche.

Make money, not war

A blogosfera está cheia de neo-liberais. Da política e da economia. Nunca as teses políticas do livre mercado e dos conselheiros de George W. Bush tinham tido tanto eco.
Já que gostam tanto da economia de mercado, porque não se dedicam a ela com mais afinco? Se forem aqui, a Economist dá uma ajuda. Enquanto se dedicavam à facturação, nós, os outros (reparem, dou este conselho completamente de borla...), ficávamos livres de tanta certeza, tanta fé, nos cifrões e em quem neles manda.

As fotos da mana

Há umas semanas, meti-me com a irmã de um famoso jogador de futebol. A moça dizia, numa entrevista, que o único livro que alguma vez tinha lido era a biografia do mano. Não sei o que mais me atraiu: se o extremado amor fraternal, se a opção radical da fixação num único livro.
A verdade é que, desde essa fatídica data, todos os dias, 9 em cada 10 pessoas que aqui chegam através de um motor de busca, seja ele o Google, o Yahoo ou o Altavista, teclaram nos seus computadores duas palavras mágicas começadas por J e, em alguns casos, juntaram-lhe a palavra «foto».
Não resisti à curiosidade e também eu fui procurar fotos da moça na Net. Não faz o meu estilo, longe disso, mas queria saber se teria enveredado por qualquer actividade lúdica envolvendo o corpo, if you know what I mean...
A verdade é que nem isso e eu fiquei sem saber porque há tanta gente à procura de fotos da moça neste blogue.
[Note-se que não posso escrever o nome da moça, já que isso aumentaria as probabilidades de os motores de busca me encontrarem...]

Liberdade de expressão

Nos últimos tempos - deve ser da experiência (versão benévola) ou da idade (versão menos agradável) - tenho vindo a rever o meu conceito de liberdade de expressão.
Estou cada vez mais convencido de que a liberdade de expressão - quando exercida em democracia, sublinhe-se - tem mais a ver com a possibilidade de não dizer do que com a faculdade de dizer.
Ou seja, num mundo em que a opinião é livre, anda à solta, toda a gente tem opinião acerca de tudo, a verdadeira liberdade é a contenção. Não é dizer o que nos vem à cabeça, é dizer só aquilo que achamos útil, ou interessante, dizer. E só isso.
Dou um exemplo. Sobre os incêndios deste Verão escrevi um texto contido, em que disse aquilo que considero essencial. Poderia ter dito muito mais, culpado meio mundo. Poderia ter-me armado ao pingarelho, apontar solução. Cagar sentenças, como dizem os antigos lá da terra. Preferi a contenção.
Dou outro exemplo. Sérgio Vieira de Mello. Poderia ter escarrapachado uma mão cheia de certezas, uma data de bazófias. Declarar uma verdades absolutas. Optei pelo registo contido.
Essa é a minha liberdade. Tem, pelo menos, a vantagem de não acentuar a algazarra em que cada discussão se transforma.

Os blogues dos outros

Isto de vir de férias e começar a trabalhar tem que se lhe diga. Acho que deveria haver um hiato, um período de descompressão, em que apenas se existisse. Sem compromisso(s).
Este ano, por exemplo, esse hiato fez-me falta para me religar à blogosfera. Ler o que há de novo, reler coisas de que gostei (é verdade, gosto de reler blogues...). Passear por aqui.
Por isso, só agora dou as boas vindas ao Glória Fácil. um blogue de gente boa, que conheço. Acho má ideia fazerem um blogue sobre tudo, logo agora que há tanto calor. Como os conheço, acho que, lá mais para o Inverno, não deixarão a Glória tornar-se num blogue da tanga. Pronto, agora que já disse o disparate da ordem, quero felicitar o JPH pelo texto sobre a dificuldade de se ter opinião sem se ser radical. É coisa que me persegue há anos, mas que se acentuou imensamente nos últimos tempos.
Quero também dar uma palavra de incentivo ao Maranhão. Já muitos blogues passaram por essa tentação da desistência. Mas vozes como a do Maranhão nunca são de mais.

Eu e o meu blogue

Todos os dias visito o meu blogue. Se escrevo à noite, vou lá de manhã. Se escrevo de manhã, vou lá à tarde.
Penso que não será por narcisismo. Bom, pelo menos, não será por narcisismo em excesso. Também não é para inchar os famosos contadores. Afinal de contas, só lá vou duas ou três vezes por dia.
Vou lá para caçar uma outra gralha e também para me assegurar de que ainda concordo com o que escrevi. Até agora, não tenho tido razões de queixa.
Vou lá (mas que digo eu? Venho cá, assim é que é...) por causa de um pesadelo secreto que me persegue. Escrevemos num espaço que não nos pertence e que, ao contrário do que alguns pensam, tem dono. No caso, é a Blogger, uma empresa detida pelo Google.
Ora o meu pesadelo é que esse senhores não gostem do que escrevo, da minha cara ou da falta dela, e entrem por aqui dentro, desarrumem a casa, deitem a casa abaixo... Um pesadelo que não me larga.

terça-feira, 19 de agosto de 2003

Sérgio Vieira de Mello

Sérgio Vieira de Mello morreu em Bagdad, vítima de um atentado terrorista. Estúpido, como todos os atentados terroristas. Mas Sérgio Vieira de Mello é, também, mais uma vítima de uma das mais estúpidas guerras de que há memória.

Piso Zero

Em Viana do Castelo há um prédio moderno com um elevador ainda mais. A cada paragem, uma voz feminina informa a que piso chegámos. Piso três, piso dois, piso um, piso zero... Com uma peculiaridade - tais informações são prestadas numa cerradíssima pronúncia do Norte, impossível de reproduzir aqui.
[Retribuição ao Cerco do Porto].

Media - uma fábula

10 e 55. Noticiário das 11 na Rádio Comercial. Sim, o noticiário chega cinco minutos antes da hora. Uma fabulosa invenção da rádio dos nossos dias. O noticiário é patrocionado pelo Diário de Notícias, com direito a spot no início e no fim. No espaço de um minuto e meio, são emitidas duas notícias. Uma treta qualquer internacional e, a abrir, um longo minuto dedicado à revisão do salário mínimo nacional, ou seja, à manchete do Público.
Recapitulemos: a PT, detentora do Diário de Notícias, paga os noticiários de uma rádio da sua concorrente Media Capital para que esta dê as notícias do principal concorrente do mesmo Diário de Notícias.
Bem vindos, pois, à Disneylandia dos media portugueses.
[Para que melhor se entenda esta fábula, esclareça-se que a manchete do Diário de Notícias era sobre a venda de património do Estado à Caixa Geral de Depósitos para ajudar a reduzir o défice. Uma notícia com interesse, portanto. Uma notícia que, por exemplo, abriu os noticíários da SIC Notícias. Que é do grupo Balsemão, mas essa já é outra história.]

Um fogo antigo

Uma das vantagens de ter estado de férias por estes dias foi a de não me ter sentido obrigado a escrever sobre os incêndios. Nada percebo de política florestal, muito menos de combate a fogos e, sinceramente, entediam-me estas eternas discussões sobre seja o que for que acabam sempre reduzidas ao confronto político mais básico.
Por exemplo, a Economist dedicou um quarto de página aos fogos em Portugal, Espanha e França. Logo no título, avança: Could this year's summer fires have been prevented? Probably not. Se ler esta frase pela bitola de análise tão em voga em Portugal, chego à conclusão de que, sendo a Economist uma revista conservadora e estando os conservadores no poder nos três países referidos, estamos perante uma mera afirmação desculpabilizante. Governasse a esquerda e a Economist seguramente encontraria falhas gravíssimas de origem humana.
Prefiro, porém, pensar que os incêndios - ou melhor, os efeitos especialmente desvastadores destes incêndios - se devem a um antigo fogo que arde sem se ver no resto do ano. Um fogo que mistura explosivamente exageradas doses de incúria com uma total ausência de planeamento do território.

Volto já!

Por causa do W32 Blaster, o recomeço a sério fica para daqui a umas horas. Já percebi que a caixa de correio me vai dar água pela barba, mas até tenho medo de lá mexer. E se de lá sai algum primo do W32 Blaster?

W32 Blaster

Sempre me foi mais difícil recomeçar do que começar. No começo há um acaso que facilita tudo. É por isso que gosto dos começos não premeditados. Começa-se em qualquer altura, com um gesto, uma palavra. E depois... continua-se.
O recomeço é bem mais doloroso. A angústia do recomeço começa ainda antes da paragem, da pausa. E depois avoluma-se até estoirar nos momentos que antecedem o momento, o momento do recomeço.
O recomeço implica sempre uma reavaliação do que ficou para trás. Um recomeço nunca é ingénuo.
Nos últimos 17 dias, sofri a angústia deste recomeço. Sabia que iria recomeçar. Queria recomeçar. Acumulei notas, rasguei notas, alinhavei pensamentos. Sabendo eu bem que, aqui, escrevo por impulso, ao sabor da tecla. Esta escrita raramente é premeditada.
De pouco valeu. Chego de férias e o computador (último modelo, patati patata...) recusa-se a colaborar. Já me sentia com o síndrome Mexia, quando a máquina me elucidou: «Então ainda não percebeste que estou completamente infectado por um vírus?».
E lá estava ele. O W32 Blaster. Novinho em folha, vim depois a saber. Nasceu a 11 de Agosto e eu fui logo dos primeiros contemplados.
O W32 Blaster é um vírus (melhor, verme) catita. Adora desligar o computador, nem dando tempo para que o anti-virus actue. Ou sequer para que se procure na Net um antídoto. Exige, por isso, muita persistência e alguma perícia informática. O resultado é que, vinha eu cheio de vontade (e de hesitações...) de blogar e, as primeiras duas horas frente ao ecrã, foram dedicadas ao W32 Blaster.
Não sei se foi este vírus que atacou o Valete. Ele acha que foi obra da fattah. Eu, depois do apagão azelha da semana passada, não estaria assim tão certo.

sábado, 2 de agosto de 2003

Diálogo com uma só voz

- Jotinha, fofo, desliga o computador...

Nuvens

As nuvens da minha cidade têm cor de fogo velho.
Será que trazem o fumo da minha aldeia?

Diálogo mínimo com férias ao fundo

- Jotinha, vamos de férias?
- Bora.

O descanso do plasma

Estes têm sido dias complicados para o plasma que me liga ao mundo.
Não necessito de ler o manual de instruções para perceber que esta canícula está a liquefazer o plasma mais do que seria legalmente permitido.
Receio que, algures entre a leitura de uma «posta» e a redacção de uma «entrada», o plasma pasme e plasme algo do género: «NEM MAIS UM CARÁCTER, QUE SE LIXEM OS LINKS, VAI BLOGAR PARA UM RAIO QUE PARTA».
Vou, por isso, dar descanso ao plasma.

Cuidado com o Bagão

Sou dos poucos que ainda acredita em coincidências. Não estranhei que Bagão Félix estivesse ontem na primeira página do Diário de Notícias e do Público. Nem estranhei que em ambas estivesse a sorrir. Nem que tudo isto se passe uns depois depois de sabermos que o ministro do Benfica e da Santa Madre Igreja aderiu ao PP. Nem que o título do DN - «A felicidade faz-se pela renúncia» - tenha uma conclusão lógica no Público - «Cuidado com o Bagão».

E o Zé Luís?

Na revista do Expresso, entre as páginas 60 e 65, estão a Marisa e o Luís, a Marisa e a Cláudia, a Cinha e o Paulo, o Paulo e o Pedro (!!!), o casal Tallon versão Primavera/Verão 2003. Estão todos. Só falta o ministro Arnaut. Será que entrou de férias?

Sondagem - faça você mesmo

Quando vejo sondagens, apetece-me dar razão aos políticos. Deve-se aplaudir as que nos dão razão - «Os números revelam que estamos a corresponder às ansiedades dos portugueses» - e desprezar as que nos castigam - «A verdadeira sondagem é a das urnas», ou «Nós não governamos em função das sondagens».
Vejam bem este exemplo:
- há uma semana, o DN e a TSF deram 43,3 por cento ao PSD e 36,1 ao PS, sendo que a distância entre ambos estava a aumentar.
- esta semana, o Expresso, a SIC e a Renascença dão 38,9 por cento ao PS e 36,5 por cento ao PSD. A única coincidência é que a distância entre ambos também está a aumentar.
Por isso nem estranhei que o Expresso, para uma sondagem em que o PS vai à frente e aumenta a distância face ao PSD, numa altura em que a liderança socialista está completamente refém do processo Casa Pia, tenha escolhido para título «Governo e Durão resistem à crise».

Teoria da estupidez

Quando se aproximam as férias, há dança nas estantes. Livros que saem, livros que entram. Novidades que já o foram e ficaram à espera de melhores dias. Coisas que ficaram a meio. Outras que pedem segunda ou terceira leitura. O ano passado foi A Cidade e as Serras. É extraordinário como a obra de Eça ganha actualidade de cada vez que se lê.
Este ano, cairam-me nas mãos dois pequenos volumes (Celta Editora) do historiador italiano Carlo M. Cipolla, ideais para folhear na relva após o almoço. São pequenos ensaios que se lêem como se de ficção se tratasse.
Um deles intitula-se As Leis Fundamentais da Estupidez Humana e é um daqueles textos que - pensamos quando lemos - descreve com surpreendente rigor pessoas e épocas que conhecemos. E isto independentemente da época ou da teia específica de relacionamentos de cada momento. É um texto que vem sempre a propósito.
Por exemplo, esta é a Primeira Lei Fundamental da Estupidez Humana: Cada um de nós subestima sempre e inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos em circulação.
Depois das férias conto mais.