domingo, 6 de julho de 2003

Berlusconi e o contexto

Sobre Berlusconi e o modo como os media tratam Berlusconi muito há ainda por dizer.
Prefiro, por agora, abordar um aspecto sublinhado pelo Abrupto quanto ao contexto circense em que os factos ocorreram.
Passa-se o mesmo no Parlamento português. Cada partido (enfim, o PS e o PSD, que os outros pouco barulho podem fazer...) tem deputados exclusivamente destacados para tornar inaudíveis as intervenções dos adversários. Sentam-se, normalmente, na última fila, onde a acústica da sala torna mais leve a sua função. E todos os jornalistas os conhecem, apesar de nenhum deles alguma vez ter feito uma intervenção parlamentar de registo.
Pessoa mais distraída (ou mais cínica, como preferirem...) até poderia pensar que recebem uma subvenção estatal para fazerem barulho. São eles que dão animação às sessões. Eles e os oradores mais truculentos, que gritam no limbo da ofensa. Sessão que não tenha os perturbadores oficiais ou as tiradas piadéticas será descrita nos jornais da manhã seguinte como «sonolenta» e analisada no fim-de-semana como mais um exemplo de como a política portuguesa perdeu qualidade.
Para se fazer política a sério, aqui, em Estrasburgo, ou onde quer que seja, é preciso elevar-se (em todos os sentidos da palavra) a esse ruído. É pena, mas é assim.