domingo, 27 de julho de 2003

A cabala

É claro que não acredito na cabala de que Ferro Rodrigues fala intermitentemente.
Apenas me parece que a liderança do PS caiu nas garras de um tenebroso triângulo - política, justiça, media - que, há largos anos, tem agido em Portugal de forma absolutamente descontrolada.
É aquilo a que poderíamos chamar de Triângulo das Bermudas, pois, também neste, quem lá cai dificilmente de lá sai com vida.
Os três sistemas - política, justiça, media - têm leis que os colocam ao nível dos melhores a nível mundial, têm códigos de conduta que talvez façam inveja lá fora. É ao nível dos comportamentos que as coisas falham.
Na política, há os deputados que vão à bola e acham que é trabalho político. Há partidos que prometem baixar o IRS antes das eleições e sobem o IVA após as ganharem. Há dirigentes partidários que se comportam como autênticos abutres do líder eleito.
Na justiça, há um caso como o dos hemofílicos, que se prolonga por 13 anos, destrói a carreira de uma das nossas mais promissoras políticas, e acaba em nada. Nem condenação, nem ilibação. Nada. Compare-se com o que se passou em França.
Nos media, há jornais que numa semana publicam escutas telefónicas indiciando gravíssimos crimes, e na outra nem sequer falam do assunto. E ainda dizem que fazem jornalismo de investigação...
Mas o pior é quando estes três sistemas interagem. Quando os quilos de demagogia da política se cruzam com a ineficácia feita de preguiças várias da justiça e com a perfídia que se instalou no sistema mediático. E tudo isto por entre uma mistura explosiva de incompetência e cinismo que atravessa os três sistemas em doses mais ou menos equivalentes.
E Ferro Rodrigues? Não acredito, insisto, na tese da cabala. De que haverá uma central de informação que comanda tudo isto.
Mas acredito que, como refere o Mata-mouros, há coisas demasiado estranhas em toda esta história. Provavelmente, haverá apenas uma infeliz coincidência das mãos invisíveis que comandam os três sistemas. Provavelmente...