sexta-feira, 18 de julho de 2003

O depósito obrigatório

José Pacheco Pereira, no Público de quinta-feira, defendia um «depósito obrigatório» para a Internet.
Esta coisa do «depósito obrigatório» surgiu-me há 20 anos, quando trabalhava na rádio. Havia uma bobina que rodava muito devagarinho e que gravava toda a emissão. Nunca percebi para onde era encaminhado o resultado. Mas pensava: um ano são 365 bobinas, é muita coisa. E, na altura, ainda não havia rádios locais e as nacionais eram poucas. E havia ainda o problema da durabilidade do suporte.
Acho que muita gente guarda as entrevistas que faz na rádio. Talvez haja um ou outro que guarde programas. Mas e o resto? Para caracterizar os tempos que vivemos, para a História que alguém há-de fazer, parecia-me essencial que se guardasse tudo: os separadores de publicidade, a publicidade, as locuções de continuidade, os telefonemas dos ouvintes. É isso, mais que o programa muito elaborado, que marca uma época. [o Outro, Eu não quererá botar faladura sobre isto?]
O mesmo se passa na Net. Haverá gente que guarda o essencial do que por aqui deixa. E até haverá mesmo quem publique. Mas e o resto. O diletantismo, o disparate, a anotação sem importância? Que destino terá? E é isso, mais que as grandes teses, os grandes sites de investigação, que caracteriza os tempos que vivemos.