O emplastro (dois)
Meia blogosfera anda indignada com o facto de Herman José ter levado um atrasado mental, vulgo Emplastro, ao seu programa. Eu próprio, a quente, escrevi sobre isso, abusando eventualmente da ironia.
O Abrupto talvez tenha sido o mais radical. Porque propôs uma, digamos, solução (que o Herman peça desculpa, tão simples como isso...) e porque apelou a uma espécie de onda de indignação nacional. Porém, à hora a que escrevo, o tema ainda não extavasou os blogues.
Os textos do Abrupto (e de outros, num registo com menos arestas) levantam uma questão que extravasa o Herman (sobre o apresentador, concordo com o Mexia). E essa questão é a do limiar da indignação. Porque a verdade é que há uns anos que a televisão entrou numa espiral (ia dizer «de patamar em patamar», mas «espiral» é mais escorregadio) da qual não se percebe como possa sair. E nós, do lado de cá do vidro, já nos tornámos insensíveis porque, na verdade, perdemos as referências. Daí que já ninguém se indigne.
Foi o emplastro no Herman, mas na véspera tinha sido uma paraplégica a rezar/gritar/chorar/implorar/balbuciar em Fátima por um milagre. E não foi num talk show, foi no noticiário! E um destes dias um fulano que dissecou um cadáver na televisão vai esquartejar... um feto (!!!).
Há outra questão que gostaria de levantar. Quando é que toda esta barbárie ganha foros de barbárie? Quando passa na tv generalista, na tv por cabo, nos vídeos de aluguer? Quero dizer com isto: é legítimo que se filmem cenas de sado-masoquismo, de violência, de desumanidade para consumo em circuito restrito? Passam a ser chocantes apenas quando mostradas ao mundo?
Eu sei que talvez esteja a problematizar em demasia. E que o momento talvez exija o contrário, o da simplificação. Só ela conduz à acção.
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