domingo, 13 de julho de 2003

O jornalismo que temos - a continuação

Como era de prever, o João Pedro Henriques mandou outro e-mail. Ei-lo:

Meu caro,
Cais outra vez no erro das generalizações (que tu dizes querer evitar). Afirmas: «Abomino a mania das generalizações que ultimamente se apoderou dos nossos comentaristas, principalmente os da área política. Não acho que isto seja tudo uma choldra, uma cambada de corruptos, ou que todos queiram mamar desonestamente. Pelo contrário, esforço-me por distinguir o trigo do joio.»
O ponto é este: Obviamente que há «comentaristas» que usam e abusam da «mania das generalizações» e afirmam, constantemente, que isto é «tudo uma choldra», «uma cambada de corruptos», onde «todos querem mamar desonestamente». Mas sabes bem que não são todos assim. E, se calhar, nem são maioritários. Ou seja: há para todos os gostos. Os equilibrados,os desequilibrados, os justos, os injustos, os profundos, os superficiais, etc, etc.
Mas lendo-te isso não é claro - pelo contrário. Tomas o todo pela parte e carimbas na testa de todos os comentaristas políticos deste país um selo injusto para grande parte deles. É isso que me chateia, mesmo não sendo eu comentarista político. É tudo enfiado no mesmo saco, pagam os justos pelos pecadores, e quem tenta ter alguma «espessura» na forma como faz jornalismo enfrenta incessantemente avaliações injustas do seu trabalho por parte de quem tem pressa demais para, efectivamente – como tu próprio dizes - «separar o trigo do joio». A «mania das generalizações» lançada pelo metajornalismo pacheco-pereiriano conquista adeptos, e vejo que és um deles.
Quanto ao que dizes sobre as fontes, concordo contigo, como não podia deixar de ser. Mas do teu primeiro texto para o segundo há uma diferença: no primeiro denuncias o jornalismo «orientado pelas fontes», no segundo já só o jornalismo de mono-fonte. Tivesses tido esse cuidado logo no início e eu próprio não te teria dito nada.
Última nota: a «mania das generalizações» conduz ao absurdo de se fazerem «teses» (as aspas têm valor de ironia) sobre o jornalismo do Independente ou do Expresso ou do Público ou do DN ou da Visão, etc, etc, etc. Trabalhas em redacções há muitos anos e sabes tão bem quanto eu que isto não é honesto. Há de tudo nessas redacções, do melhor ao pior. Dificilmente se pode dizer que algumas delas tenha, actualmente, uma identidade única no seu seio (detesto esta expressão mas não me ocorre melhor e estou com pressa). Mesmo n'O Independente” versão-Portas havia um estilo de escrita mas não um estilo de fazer jornalismo.
Enfim: peço para não passar ser constantemente enfiado no mesmo saco de toda a gente. Se calhar isto implica muito mais trabalho (e coragem) da parte de quem gosta (como eu também gosto) de ter uma visão crítica (ou seja: analítica) sobre o jornalismo que se faz em Portugal.