O Jornalismo que temos
Emídio Rangel assina no Jornal de Negócios (não tem site) de sexta-feira um artigo que valeria a pena ser lido em todas as escolas de jornalismo (penso que as redacções, genericamente falando, são já casos perdidos). Chama-se «Jornalismo de reverência», mas também se poderia chamar «Jornalismo pé de microfone» ou «Jornalismo cu sentado».
Fala do caso António Preto. Rangel espanta-se com o tratamento jornalístico dado ao assunto. No fundo, os media limitaram-se a reproduzir o que o homem disse. Nada questionaram. Por exemplo, não perguntaram porque andava ele por esse país fora com malas cheias de dinheiro. Bolas, isto isto não é normal, logo cabe na categoria de notícia...
O caso levanta outros problemas, por exemplo a divulgação de escutas telefónicas pelos media. Mas isso, como se sabe, não é específico deste caso. Específico deste caso é o desleixo, a falta de profissionalismo, o total incumprimento da missão atribuída aos media. O homem até poderia ter uma explicação razoável para o que fez, mas nunca o saberemos porque os jornalistas não perguntaram.
A esta hora do campeonato, já alguns vociferam: «Claro, queriam crucificar o homem só porque ele é do partido do poder, do PSD.»
Não é isso que está em causa. E temos, como contraponto, o caso Fátima Felgueiras, em que os media não se pouparam a pormenores. Infelizmente, também neste caso o mérito não é dos jornalistas. Os media limitaram-se a escrever o que os ex-amigos e inimigos da dra. Fátima quiseram pôr cá fora. Não há qualquer mérito jornalístico.
O jornalismo de investigação em Portugal, excepto raríssimas excepções, é jornalismo orientado pelas fontes. Divulga-se, consciente ou inconscientemente, apenas o que elas querem.
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