quinta-feira, 21 de agosto de 2003

1316

Até agora, dizem-me as notícias, morreram em Portugal 1316 pessoas devido à onda de calor. Reparem na precisão: 1316.
Como se morre de calor? Parece que há modelos matemáticos. E eu, que vivo num paí­s que odeia a matemática, ainda mais me espanto. Com a precisão.
E continuo com a minha dúvida. Acho que, em casos extremos, se pode morrer de insolação, de falta de água, de choque térmico, de agravamento de certas doenças devido ao calor. Mas não imaginava que isso fosse tão exactamente mensurável em termos matemáticos. «Ó sô doutor, está aqui um cadáver, mas não sei se foi do calor, se foi do álcool em excesso... Aplicamos-lhe o modelo matemático?»
E outras dúvidas se levantam. Será que o frio também mata? E, já agora, o tempo ameno? Será saudável a monotonia climática?
Temo que esta seja mais uma daquelas questões bizantinas.
É certo que a estatística, a matemática, devem ser um instrumento de governação. Se morreu gente com calor, devem ser tomadas medidas para que isso não se repita. Mas não deixa de haver qualquer coisa de inquietante na precisão dos números. Dizem-me as notícias que os 1316 estão abaixo dos 2000 mortos esperados. A maldita da precisão não pára de me espantar.