domingo, 31 de agosto de 2003

A fractura ideológica

Nos últimos dias, andei particularmente abespinhado com o Alfacinha. O que mais me irritava era que, sem eu perceber como, me estava a envolver numa das poucos discussões em que jurei a mim próprio não me meter no dia em que decidi criar este blogue - a fractura ideológica.
Acho, obviamente, que não pensamos todos o mesmo acerca das coisas básicas da vida e que, de alguma forma, nos podemos arrumar, mais ou menos ideologicamente, em tribos. Daí, a inevitável catalogação.
Penso, porém, que hoje em dia esse tipo de catalogações são meramente retóricas, pouco operacionais. Quero com isto dizer que, talvez devido à queda do Muro e etc, esgotou-se de alguma forma a carga pragmática dessas tribos. E esse tem sido o problema fundamental de toda a política na última década.
Acresce a tudo isto um facto ainda mais importante. Despojadas de um programa de acção, as tribos sentiram-se mais disponíveis para o convívio, para a interpenetração. A Terceira Via, Guterres e Blair, são o exemplo mais à  mão. É (era?) aquilo esquerda? Direita?
Dito isto, convém não arrumar definitivamente a questão. Em alguns casos, ela é ainda altamente presente. Exemplo: Paulo Portas é, muito expressivamente, um tipo de direita, muito conservador. É impensável que parte (uma parte muito grande...) do PSD se reveja nele.
Digamos que, nos tempos que correm, convivem sem grande problemas as duas correntes. Gente que radicaliza discursos, à direita e à esquerda, e gente que passa bem sem jargões.
Isto é o que penso sobre a matéria. Cujo debate, repito, não me seduz particularmente.