IP 6 (o regresso)
De Abrantes a Lisboa, há o IP 6 e a A 1.
Ou há a estrada velha, que nunca soube como se chama. É por aí que voltamos. Por onde as chamas andaram este Verão.
Da Chamusca a Alpiarça, havia uma das estradas mais frescas da região - um túnel de árvores. Hoje, há um impregnante cheiro a fumo. Pelas colinas em redor, desconhecendo estradas, riachos e quase os limites de vilas e aldeias, só os tons de ocre, castanho, preto. Dizem-me que de Abrantes para cima, pelo menos até Castelo Branco, ainda é pior.
Passo por ali e penso nas discussões que por vezes aqui temos, por exemplo sobre questões internacionais, e quando alguém deixa cair: «Pois, é fácil dizermos tudo isto, discutir assim, ter estas opiniões, porque não estamos lá, a sofrer tudo na pele».
Passar por ali, quando tudo é já cinza, não é estar lá. Não é sentir nada na pele. Passar por aqui obriga-me a um silêncio ainda mais pesado.
Apenas uma pergunta. Antes disto, alguém tinha pensado naquilo? Antes de tão grande tragédia, alguém, nas últimas centenas de anos, se preocupara em estruturar, prevenir?
E apenas mais uma pergunta. E agora? Alguém vai preocupar-se?
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