sábado, 23 de agosto de 2003

Israel III

Que eu tenha detectado, o Aviz, o Contra a Corrente, o Mata-mouros, o Mar Salgado e o Para Mim Tanto Faz pronunciaram-se directamente sobre o que aqui escrevi. Registo, antes de, o tom civilizado do debate.
Com a discussão se alargou, gerou-se um ou outro equívoco e saltaram para a arena novos sub-temas. Confesso que, pela minha parte, continuo com as mesmas inquietações com que comecei esta conversa.
Sobre este tema poderia ter o discurso piedoso de lamentar poeticamente os mortos ou de bradar que temos de persistir na luta contra o terrorismo. Coisas com as quais todos estamos de acordo. Dêem-me o benefício da dúvida, de questionar em vez de alardear certezas. Sem hipocrisia.
Dito isto, vamos à substância, com algumas recapitulações e outros passos em frente.
1. Nunca, nunca mesmo, me passou pela cabeça colocar no mesmo plano o governo de Israel e os terroristas palestinianos.
2. Nunca me passou pela cabeça, nunca, não condenar qualquer acto terrorista. Em Israel, Bagdad, ou Espanha. Onde quer que que seja.
3. Não foi por acaso que o meu texto sobre o tema tenha sido após a morte de um dirigente do Hamas considerado moderado. Porque o que me interessa discutir é a resposta ao terrorismo e não o terrorismo. Interessa-me debater aquilo em que temos opiniões divergentes e não repisar banalidades.
3. O Aviz mostra-me imagens de terrorismo e diz-me que aquilo é a guerra. Mas, Francisco, era aí­ mesmo que eu queria chegar. Porque eu não sei onde acaba uma coisa e começa a outra. Ao ponto a que as coisas chegaram no Médio Oriente, espanto-me que alguém saiba.
4. Porque, por exemplo, o Alfacinha diz-me que Israel desenvolve uma guerra justa contra um inimigo. E diz-me que os radicais palestinianos são terroristas e não fazem a guerra, porque a guerra é sempre contra alvos militares e não civis. E eu digo que a lógica disto é uma batata. Então os palestinianos são terroristas quando atacam e militares quando atacados?
5. E depois há o Hamas. O Hamas não é «uma organização terrorista. Ponto», meu caro CAA. O Hamas tem real peso na sociedade palestiniana. Gere escolas, centros de assistência, controla mesquitas. Não viu os milhares que se juntaram para o funeral do tal dirigente? Não estou com isto a conferir qualquer legitimidade ao Hamas. Estou apenas a constatar, repito, constatar, que o Hamas está profundamente enraizado na Palestina. Ou seja, o Hamas não é um conjunto finito, como eram as nossas Brigadas FP-25. Não basta matá-los ou prendê-los todos. Não é possí­vel.
6. Dizem-me que não se pode dialogar com terroristas. Mas na Irlanda do Norte dialogou-se. No Paí­s Basco, intermitentemente, de forma muitas vezes encapotada, dialoga-se.
7. E chegamos ao road map. É mais uma oportunidade que está a ser perdida. Só que, se fosse outro o comportamento do governo de Israel, poderíamos sempre dizer que o road map tinha sido rasgado pelos palestinianos. Assim, ele está a ser espezinhado por ambas as partes. A legitimidade moral conta muito nestas coisas. De outra forma é a barbárie.
8. O papel dos moderados. O road map parte do princí­pio de que só pelo diálogo, pela dissusão, é possí­vel fazer a paz. Daí­ a importância de encontrar moderados em ambas as trincheiras. Porque é que se aceita que do lado israelita as coisas sejam comandadas por falcões enquanto se exige aos palestinianos que sejam pombas?
9. Por vezes, fico com a impressão de que em Portugal gostamos de nos armar em radicais de capoeira. Galarotes. Estamos sempre prontos para uma luta de galos. Principalmente se nada tem a ver connosco. Neste tipo de questões há que ser pragmático, sem abdicar dos princí­pios. Ontem, Colin Powell apelou directamente a Arafat para desarmar o Hamas. Há um ano que os EUA faziam de conta que Arafat não existia. Mas a verdade é que ele esteve sempre lá, mexendo os cordelinhos. Ele não deixa de existir por nós fingirmos que ele não existe.
Por agora, basta.