Liberdade de expressão
Nos últimos tempos - deve ser da experiência (versão benévola) ou da idade (versão menos agradável) - tenho vindo a rever o meu conceito de liberdade de expressão.
Estou cada vez mais convencido de que a liberdade de expressão - quando exercida em democracia, sublinhe-se - tem mais a ver com a possibilidade de não dizer do que com a faculdade de dizer.
Ou seja, num mundo em que a opinião é livre, anda à solta, toda a gente tem opinião acerca de tudo, a verdadeira liberdade é a contenção. Não é dizer o que nos vem à cabeça, é dizer só aquilo que achamos útil, ou interessante, dizer. E só isso.
Dou um exemplo. Sobre os incêndios deste Verão escrevi um texto contido, em que disse aquilo que considero essencial. Poderia ter dito muito mais, culpado meio mundo. Poderia ter-me armado ao pingarelho, apontar solução. Cagar sentenças, como dizem os antigos lá da terra. Preferi a contenção.
Dou outro exemplo. Sérgio Vieira de Mello. Poderia ter escarrapachado uma mão cheia de certezas, uma data de bazófias. Declarar uma verdades absolutas. Optei pelo registo contido.
Essa é a minha liberdade. Tem, pelo menos, a vantagem de não acentuar a algazarra em que cada discussão se transforma.
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