Helena Matos
O que escrevi sobre Helena Matos mereceu comentários no Mata-mouros e não-comentários (pelas razões que ele próprio explica) no Dicionário do Diabo.
Vamos, então, a alguns esclarecimentos.
Manuel Alegre, que deu origem ao artigo de Helena Matos, afirmou que «vivemos [hoje] num clima mais perverso do que aquele que vivemos em ditadura». Repare-se, ele não compara, em absoluto, a democracia com a ditadura. Ele refere-se à perversidade do momento actual. Uma constatação que tem sido feita por gente muito variada, dos mais variados sectores ideológicos. Manuel Monteiro (e não vale a pena os apoiantes fervorosos do actual regime virem com as piadas que aplicam ao Freitas: «Ah, ah... o Monteiro de direita...»), por exemplo, afirmou esta semana que vivemos em «pré-golpe de Estado», referindo-se, exactamente, ao mesmo mal-estar a que aludia Manuel Alegre. Só que, presume-se, Manuel Monteiro não é passível de crítica, porque não tem traumas de esquerda.
Em traços gerais, concordo com Alegre e Monteiro, apesar de também subscrever as reservas que José Manuel Fernandes levantou ao deputado.
O que contesto em Helena Matos é o que escrevi: a canelada, a distorção da realidade, a extrapolação abusiva.
Exemplos? Dizer que João Soares concorreu à Câmara de Lisboa com o slogan «Fascismo Nunca Mais» é uma frase com graça, mas desonesta. A candidatura da esquerda nas últimas autárquicas teve vários aspectos anedóticos, mas não corresponde à realidade que aquele tenha sido o solgan de campanha. Helena Matos é, por isso, muito mentirosa.
Depois Helena Matos entra pela demagogia fácil. Diz que a malta de esquerda acha que só eles é que têm razão. Acontece que a malta de esquerda, nisso, é completamente igual ao pessoal da direita. A isso chama-se «convicções» e sem elas não haveria política. Nem percebo como é que há gente que ainda discute este tipo de coisas.
Não satisfeita, Helena Matos ainda vai buscar um estafadérrimo lugar-comum sobre o fascínio da malta da esquerda pelo censor. A direita inteligente há muito que percebeu que essa afirmação é um disparate. Saramago foi Nobel em democracia. O próprio Alegre tem, em democracia, prosa que rivaliza em qualidade com a poesia dos tempos da ditadura.
Concordo com o Mata-mouros quando diz que Helena Matos é «directa, acutilante e corajosa». De facto, necessita dessas três qualidades para escrever os disparates que escreve. Só não percebo onde está a lucidez....
É por isso que acho os textos de Helena Matos muito pobres para início de conversa. Como acho os textos do Pacheco Pereira sempre estimulantes (e raramente discordo deles..), ou acho a generalidade dos textos políticos do Manuel Alegre perfeitamente dispensáveis. Apesar das convicções que penso ter, nunca considerei que os textos de uns são clarividentes só porque são de um lado da barricada e os de outros constituem perfeitos disparates só porque estão do outro lado.
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