terça-feira, 2 de setembro de 2003

Já vi, sim senhor

JPP tem sobre as relações entre os media e a política uma postura cínica que frequentemente subscrevo. O cinismo, porém, é encantatório. Tanto se pratica que se perde o pé.
Depois de «pousar», provavelmente ainda sob os efeitos do jet-lag, JPP decidiu escrever sobre a alegada dualidade de tratamento mediático entre a extrema-esquerda e a extrema-direita. E pergunta se já alguma vimos editoriais sobre «o perigo do crescimento da violência anti-globalizadora».
Acontece que já todos vimos. Por exemplo, no jornal em que JPP escreve (quase) todas as semanas, o respectivo director, José Manuel Fernandes, comparou as manifestações anti-globalização aos hooligans do futebol.
Na imprensa portuguesa, de resto, ao contrário do que se progagandeia, as teses da direita prevalecem actualmente sobre as da esquerda. Basta ler os editoriais. Eu sei que quanto aos extremos é um pouco diferente. Mas se JPP quisesse usar da perspicácia com que tantas vezes nos brinda, perceberia que os elogios à extrema-esquerda chique (leia-se Bloco) que surgem nesses jornais se destinam mais a achincalar a outra esquerda (leia-se PS) e a fazer o jogo da direita actualmente no poder.
Além de tudo o mais, os media limitam-se a reproduzir uma realidade criada pelos políticos. Foram os media que excluiram constitucionalmente a possibilidade de criação de partidos neo-nazis?
E depois há ainda a questão da geografia política. Não se podem fazer equivaler, por exemplo, as posições neo-nazis às de partidos parlamentares como o BE.
Aliás, quanto a esta questão, convinha que JPP nos desse alguns esclarecimentos. Por exemplo, sobre se considera algumas posições do actual PP de direita ou de extrema-direita. Isto em contraposição, por exemplo, com o BE. E até lhe dou uma dica: tudo o que se tem escrito sobre as relações entre Paulo Portas e a religião é mais do domínio da direita ou da extrema-direita?