Jornais e política
Não gosto de deixar nada a meio, mas também sei que não se pode discutir tudo de uma vez. Deixemos, pois, fluir a conversa, sem pressas. O texto que se segue é mais um contributo para a troca de ideias com o Abrupto. Há contributos em Mar Salgado, Alfacinha, Almocreve das Petas.
1. A linha editorial dos jornais portugueses é uma daquelas questões sobre as quais toda a gente acha que já tudo foi dito. Mas não foi, sinal disso é que o marasmo continua.
Subscrevo quase tudo o que diz JPP sobre esta matéria. Lembro apenas que Portugal tem uma experiência peculiar. A nossa democracia começou por ter jornais muito alinhados partidariamente, os estatizados e os outros. O modelo faliu. Evoluímos, então, para um outro, em que se cultiva uma independência formal. Tenta-se um jogo de equilíbrios, com direcções/redacções imitando parlamentos: se o director é de esquerda, nomeia-se um chefe de redacção ou editor de política de direita, e assim sucessivamente. A luta político-partidária acaba, dessa forma, por saltar para dentro das redacções e por se reflectir nos conteúdos.
2. A situação atrás descrita agrada particularmente aos jornalistas. Porque lhes dá uma extraordinária sensação de poder. São «independentes» e, por isso, podem mudar de opinião, aprovar ou desaprovar. E que ninguém lhes diga que é por serem afectos a esta ou aquela corrente. Os jornalistas acham que podem derrubar ministros pelas notícias independentes que fazem, quando na realidade isso resulta mais de alinhamentos políticos momentâneos.
3. Dito isto, interrogo-me se Portugal tem condições para possuir uma imprensa com linhas editoriais assumidas. E questiono-me se, quando se fala de «linhas editoriais», isso implica alinhamentos partidários. Pelo que conheço das redacções, temo que esse caminho descambasse em jornais de barricada. Pela falta de profissionalismo e pela sede de influência de muito gente que por lá anda.
4. Muitas vezes, nestas discussões, damos exemplos que nos traem. Foi o que fez JPP. Os editoriais do DN não eram «às vezes» pró-coligação. Eram sempre. E o noticiário não era baseado no Robert Fisk, que assinava uma peça por dia (por vezes, nem isso...), a qual era sistematicamente mal editada - deveria surgir como artigo de opinião e não como reportagem. O resto do noticiário (além dos enviados especiais próprios) era elaborado na redacção, com base maioritariamente em fontes de informação americanas e alinhada com a política editorial do jornal. Um Fisk, por mais irritante que seja, não faz a Primavera.
5. Volta a ficar de fora o tema que originou o debate - os extremos políticos. Fica para um próximo texto.
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