Nós, os democratas
Incomoda-me a suspeição que nos últimos tempos se levanta contra quem, na praça pública, ousa opinar ou seja mero porta-voz de pontos de vista dos quais se discorda.
Acho que isso passou a ser mais patente com a guerra do Iraque. É impossível, repito, impossível discutir seja o que for sem que, de imediato, nos colem etiquetas baseadas em meros preconceitos.
Sei, de há muito, de que lado estou. Do lado da democracia. E até digo mais: estou do lado dos valores do Ocidente, por xenófobo que isto possa parecer.
Precisamente por estar deste lado, quero dar-me ao luxo de exercer plenamente os meus direitos cívicos, sabendo que, nesta matéria, um direito é, simultaneamente, um dever. O dever de contribuir para uma sociedade melhor.
A discordância é o cerne da democracia.
É por isso que quero discutir a intervenção americana no Iraque sem ser acusado, sem apelo nem agravo, de anti-americanismo. Porque não sou anti-americano. Toda a minha cultura é mais americana que outra coisa e não me queixo.
Sou contra o terrorismo (vejam o ponto a que chegámos, já temos que reafirmar evidências...), acho que ele deve ser combatido sem tréguas, mas tenho o direito de discutir, aqui, deste lado da barricada, a melhor forma de o fazer. Sem que me digam que estou a fazer o jogo do adversário.
Acho, por exemplo, que a política de «olho por olho, dente por dente» que Israel aplica não faz sentido. Só alimenta a besta. Mas não sou contra o Estado de Israel. Acho até, imaginem, que do lado palestiniano já não é só a Palestina que está em jogo. Concentram-se na Palestina todas as forças e todos os ódios de uma certa radicalidade islâmica contra o Ocidente. É também por isso que nos devemos preocupar.
Considero, por isso, pura patetice o que se tem escrito sobre o comportamento da esquerda europeia perante a guerra ao terrorismo. E não vale a pena falarem-me de Estaline, Mao ou outros palermas. Não é dessa esquerda que falo, é da esquerda do ano de 2003, que já digeriu isso, como a direita teve de digerir outras coisas.
A esquerda europeia, mas também Chirac, o Papa, parte do Partido Democrata americano, têm reticências sobre a estratégia que tem sido seguida para combater o terrorismo. Querem discutir isso internamente, aqui. Mas, digam-me lá!, porque carga de água é que isso é apoio, conivência, benevolência, compreensão, seja o que for, face aos terroristas?
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