Setembro 2
A idade (ou a cidade?) foram-me roubando Setembro.
Primeiro foi a praia da Nazaré, sempre na primeira quinzena. Aquele ondas do tamanho de casas. Aquele mar, que uns dias lambia a estrada, noutros nos deixava caminhar a pé firme até avistarmos Nova Iorque. A bola Nívea. O odor ao creme Nívea. As bolas com creme. A bolacha americana torrada. A falésia que assusta de um lado, o areal sem fim à vista do outro.
Depois foi o regresso às aulas, que os calores da revolução atiraram para Novembro, Dezembro, quando calhasse. E Setembro deixou de ser o mês último das férias. Passou quase a compasso de espera. Quiseram transformá-lo num mês igual aos outros. Quase mataram Setembro.
Depois, ainda, as vindimas. As mãos pegajosas de uvas. O doce que se misturava com a areia. O rancho de homens e mulheres, negro dominante, que se abrigava à sombra das ameixieiras. As pernas frágeis tintadas na pisa. O cheiro a mosto.
Setembro foi sujeito a todas as tropelias, mas sobreviveu.
[à suivre]
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