sexta-feira, 19 de setembro de 2003

Tu também

A Uncut de Outubro (à venda esta semana em Portugal) dedica a capa aos U2 e ao disco The Joshua Tree, editado em 1987. A revista lembra que foi com aquele disco que a banda conquistou o mundo, leia-se a América. E a generalidade das referências da música pop/rock assinalam-no como a obra-prima do grupo irlandês.
Como bónus, a revista oferece um CD de música americana In God's Country, The Music That Inspired The Joshua Tree. A América terra sagrada, terra de todas as utopias. Nas vozes de Woodie Guthrie, Hank Williams, Elvis, Robert Johnson, Staple Singers, John Lee Hooker... Enfim uma recolha séria, muito séria, das raízes, não apenas do Joshua, mas de toda a música pop/rock.
Se tivesse de eleger uma música símbolo das décadas que vivemos, não teria dúvidas em optar pelos U2, apesar de nem estar no topo das minhas preferências.
Os U2 não inventaram nada, não influenciaram especialmente os seus contemporâneos, não sintetizam na sua música as tendências marcantes destes anos.
O que os torna únicos e paradoxalmente emblemáticos é a maneira como fazem convergir na sua música (ainda não falo das letras...) coisas tão próprias, se bem que por vezes contraditórias, dos tempos que vivemos: uma certa tensão, o desespero, a falta de horizontes, a claustrofobia num mundo a que já demos a volta e no qual não sabemos que mais fazer, mas também a desejo de tentar romper fronteiras, uma violência lírica, um inconformismo sem cedências.
A batida, o baixo poderoso, as guitarras agrestes, a electrónica planante. Tudo colocado ao serviço de um conceito estético muito peculiar.
Nas letras, nos temas, nas causas que abraçam, os U2 representam, igualmente, esta época de desesperos e esperança. Ilusões e desilusões. Uma época sem referenciais, uma época em que sobreviver pode ser a causa derradeira. Sobreviver por entre alguma beleza, a verdadeira utopia.