Casa Pia - a politização
O que escrevi sobre Ana Gomes foi mais um ponto de chegada do que de partida. Porque o fundamental do que penso sobre o assunto já o havia escrito. Mesmo assim, aí vão mais umas achegas:
1. A politização. Como a memória é fraca, já ninguém se lembra que, nas primeiras semanas após a detenção de Pedroso, o nome de Ferro fez manchetes. Mesmo um caso patético do ISCTE fez manchetes. Ferro foi criticado pela maneira exagerada como reagiu. Tivesse ele reagido de forma mais tíbia e já hoje não seria líder do PS. Talvez estivesse preso.
2. A politização II. O PS, pelo que atrás ficou dito, ficou completamente refém deste caso. Durante meses, os jornalistas não perguntaram outra coisa a Ferro. Durante meses, o PS ficou limitado na sua capacidade política.
3. A politização III. Pedroso garante que está inocente. Os seus camaradas de partido acreditam e agem em conformidade - com a indignação de quem se sente injustamente acusado. Não vejo outra forma de reagir.
4. A politização parte IV. À semelhança da totalidade dos detidos, Pedroso ainda nem sequer tem acusação. Qur isto dizer que não se pode defender. Quer perante a justiça, quer perante a opinião pública diariamente intoxicada com noticiário libertado pela acusação.
5. A politização parte V. O juiz Rui Teixeira, quando recebe um recurso de Pedroso, antecipa a audição para confirmação da prisão preventiva, inviabilizando o recurso. O Tribunal da Relação lava daí as mãos e recusa o recurso. Nada disto é normal. Tratando-se de um processo complexo e mediático, é ainda mais anormal.
6. A politização parte VI. Quando o caso começa a chegar aos tribunais superiores, toda a investigação começa a ser posta em causa. De uma forma brutal.
7. A politização parte VII. Insisto num ponto fulcral que já abordei anteriormente: tratando-se de um caso desta gravidade, será normal que o resto da rede continue à solta? Ou não haverá mais rede e os anos (as décadas) de exploração de crianças da Casa Pia destinavam-se a servir a meia dúzia de senhores que estão detidos?
8. A politização parte VIII. Anda meio mundo irado com a politização que o PS estará a fazer deste caso. Mas pensará esse meio mundo que os juízes, os investigadores, vivem numa redoma, em ambiente esterilizado, e são imunes às pressões? Acha esse meio mundo que os juízes, os investigadores, são sensíveis às pressões do PS só porque fala alto e não às outras feitas em surdina, sopradas de locais inconfessáveis? Mas será que esse meio mundo é composto por virgens, acabadinhas de nascer?
9. A politização parte IX. Acabo de ver uma senhora chamado Dulce Rocha a levantar meias insinuações sobre os juízes da Relação? Isso não é pressão? Vi ontem as declarações patéticas de um psicólogo sobre os sentimentos das crianças da Casa Pia - mas essas crianças não têm direito ao recato? Se há ameaças de morte, que as comuniquem às autoridades. Expôr isso tudo na televisão não é uma forma de pressão sobre a justiça? Com isto ninguém se indigna? E nem falo do procurador...
10. A politização parte X. Uma certa malta indignou-se com a publicação de umas fotos do Paulo Portas, durante o congresso do PP, com a mão estendida, tipo nazi. Que era manipulação. Essa mesma malta acha normal que se montem imagens, na melhor tradição estalinista, misturando a libertação de Pedroso com a saída dos presos de Caxias? Ou com a libertação de Mandela?
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