Eu aplaudo Ana Gomes
É claro que aplaudo tudo o que disse Ana Gomes no fim-de-semana acerca do processo da Casa Pia. Quem leu o que já escrevi sobre o assunto deve achar até um pouco redundante esta minha declaração. Mas, neste tempo em que alguns preferem esconder-se por detrás de pensamentos pré-fabricados e na graça inconsequente, convém que se fale claro.
Que disse Ana Gomes ao DN?
«Falo no que o advogado de Paulo Pedroso falou: urdidura e maquinação. E temo que o objectivo seja, não atacar o PS, mas a justiça. E salvar os criminosos, da pedofilia ou outros.»
«Um caso como este , que se estende por décadas, não poderia ter chegado onde chegou sem cumplicidades fortíssimas, não só na instituição Casa Pia, mas noutras, incluindo do Estado. Espero que a justiça não se fique pela punição dos clientes, mas que vá aos orquestradores da rede.»
Considero estas afirmações de uma sensatez rara na política portuguesa. E acho espantoso que alguém as enquadre no mero jogo político. Ana Gomes sabe que, quando fala no aparelho do Estado, está a meter ao barulho o PS e que, se o caso for levado seriamente até ao fim, o PS será ainda mais chamuscado do que já está a ser. Mas, insisto, tem de haver seriedade e, pelo que temos visto até agora, isso é o que tem faltado mais. Presumo que por uma mistura explosiva de jogos de sombra e de incompetências várias.
Mas Ana Gomes disse mais no fim-de-semana. Exigiu que a justiça investigue se é, ou não, verdade que existem pedófilos no Governo, conforme noticiou o Le Point.
Outra das coisas espantosas que o caso da pedofilia trouxe ao espaço mediático é a convicção de algumas pessoas de que as denúncias anónimas são para deitar fora. Era o que faltava. O Ministério Público tem a obrigação, repito, a obrigação de averiguar todas as acusações feitas na praça pública, por maioria de razão se elas envolverem personalidades do aparelho do Estado.
É por isso que sempre achei que o Muito Mentiroso deveria ser investigado, até pela verosimilhança de algumas das acusações que lá constavam.
As denúncias anónimas sempre foram um dos pontos de partida fundamentais para qualquer investigação no campo da justiça ou do jornalismo. Uma coisa é publicar denúncias ou acusações anónimas. Outra, bem diferente, é investigar.
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