O Carrilho
Escrevi de raspão sobre o Carrilho e agora sinto-me na obrigação de dizer mais qualquer coisa, dada a mini-polémica que aí anda, principalmente entre o Barnabé, o Adufe, o Gin Tónico e o Bloguitica.
Começo por dizer que não me interessa muito escrever sobre a vida interna dos partidos. Já aqui disse que os partidos, o seu funcionamento interno, são do menos democrático que existe nas nossas democracias.
Cada vez estou mais convencido de que as lideranças partidárias resultam de uma conjugação do acaso com jogos muito rasteiros, em que a discussão de ideias tem um peso secundaríssimo.
Penso, também, que há nos partidos uma espécie de casta - coincidente, em parte, com aquilo a que se chama de barões -, a qual assume um papel que me desagrada profundamente. São aquelas pessoas que nunca se comprometem com trabalho político efectivo e que passam a vida a mandar bocas. Lembro-me, por exemplo, do que Angelo Correia dizia sobre Durão Barroso a seis meses das últimas eleições.
O caso de Carrilho é mais complexo, mas também entra nessa classificação.
A Carta Aberta que publicou no DN poderia ter sido escrita por qualquer um de nós. Melhor, nos blogues e nos jornais escreveu-se aquilo e muito mais.
Mas Carrilho não antecipou nada, diz agora aquilo que toda a gente diz. E também não o faz no local certo. Limitou-se a assistir, a conveniente distância, ao afundamento do barco. Agora vem dizer que o barco está a afundar-se, mas nem sequer avança com propostas alternativas.
Já no tempo de Guterres fez exactamente o mesmo: pôs-se de fora, em nada contribuindo para as soluções, mas apenas para os problemas. Cavalgou a onda de críticas a Guterres, numa altura em que TODA a gente criticava Guterres. Nunca apresentou uma alternativa.
A cena repete-se. Após esta carta, vai passar para a oposição, vai escrever todas as semanas contra o PS, a direita vai dizer que ele tem razão, vai apresentá-lo como um socialista lúcido e os socialistas vão continuar a olhar para ele ainda com mais desconfiança.
Isto não leva a nada.
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