domingo, 5 de outubro de 2003

O referendo, outra vez

Durão Barroso considera que, «muito provavelmente», a ratificação portuguesa da Constituição europeia terá de passar por um referendo. E Jorge Sampaio alerta para o «desastre» que poderá ser um referendo «precipitado».
Concordo com os dois.
[E concordo muito mais depois de ver a França e a Alemanha dizerem: «Ou aprovam esta Constituição ou acabam-se os fundos estruturais». É contra esta prepotência que devemos lutar. Antes fora da Europa, antes sem fundos estruturais, do que ficarmos numa Europa assim.]
O que está em causa é excessivamente importante para passar sem referendo. E, por isso mesmo, terá de ser um referendo a sério.
Eu sei que estou a pedir o impossível. Estou a pedir que os políticos falem claro. Que não misturem alhos com bugalhos. Que não misturem a Europa com a filha do ministro. Que não confundam Constituição com Oposição. Nem com Situação.
Que as televisões façam debates na hora nobre. Que a Manuela Moura Guedes, por uma vez, não grite muito. E, já agora, não nos dê a sua opinião. Não nos interessa. Que os jornais sejam mais pedagógicos que demagógicos. Que não entrem em pingue-pongues cheios de soundbytes, mas sem sumo. Que façam fichas explicativas. Que apelem ao voto. Se quiserem, que escolham «sim» ou «não», mas que apelem ao voto.
Que os portugueses, por uma vez, se interessem pelo seu futuro e se informem. Que não façam de conta que nada disto é com eles. Que não deixem que sejam os outros, o vizinho do lado ou o vizinho da Estónia, a decidirem o seu futuro. E que votem informados. Que votem.
Estou a pedir que o referendo não seja feito num domingo de Verão. Estou a pedir que o referendo se faça, se necessário, em dois dias, como nos países do Terceiro Mundo. Que haja carrinhas das câmaras para transportar gente. Que na CP, Carris, Metro do Porto e cacilheiros de toda a parte não se pague bilhete.
Estou a pedir... Eu sei, é pedir muito.