Religiões em confronto
Ontem assisti, em Évora, a parte substancial de um debate inter-religioso sobre a paz. Estavam presentes representantes da igreja católica, do islão e do judaísmo. Alguns nomes sonantes, outros nem tanto.
O que mais me impressionou é a flagrante incapacidade para qualquer tipo de diálogo entre aquela gente.
Embora todos insistissem nas virtudes do diálogo e declarassem sonoramente que estavam interessados em estabelecer pontes com o parceiro do lado, a desconfiança era o sentimento dominante. Atrevo-me a dizer que, mais que a desconfiança, cada intervenção era marcada pelo desprezo face ao parceiro do lado. Um desprezo intelectual, feito de certezas estudadas, mas que, frequentemente, resvalava para um desprezo quase pessoal.
Ao esmiuçarem os textos sagrados, a história e as atitudes presentes de cada uma das religiões, os conferencistas deixaram muito claro que, do ponto de vista institucional, cada uma dessas religiões foi construída contra algo, contra outra religião. É uma história de diferenciação e não de comunhão.
A pairar sobre tudo isto, surgiu Eduardo Lourenço. Em plena forma.
Suavemente, explicou como a religião e a geoestratégia se têm interpenetrado tanto nas últimas décadas. Por exemplo, como a Europa descobriu que o «desencantamento» religioso que promoveu na segunda metade do século XX «não foi propriamente uma vitória». E como a (re)descoberta de que, aqui tão perto, a vitalidade do Islão obrigou a Europa a voltar-se de novo para a religiosidade. E como os EUA nunca passaram por esse «desencantamento» porque, no fundo, «são tão fundamentalistas como os que acusam de fundamentalismo». E de como isso acaba por ser uma «vantagem» para a América. E de como «a descrença não é uma vantagem prática» para os Europeus.
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