quinta-feira, 13 de novembro de 2003

Iraque (III)

O Bloguitica, acho que já o registei um dia, é um blogue construtivo. Gosta de ajudar a encontrar soluções. Eu - por deformação profissional, presumo - gosto mais de criar problemas.
Por isso, muito sinceramente, não sei o que Portugal deveria fazer nesta altura quanto ao envio de tropas para o Iraque (esta discussão é absurda - as tropas já foram, mas enfim...).
Convém recordar, apenas, que a decisão de enviar a GNR tem meses - foi tomada numa altura em que a situação no terreno era, apesar de tudo, bem mais serena.
O que está a acontecer agora extravasa muito, muito mesmo, a questão iraquiana. O Iraque tornou-se apenas o palco de um conflito directo entre os terroristas (todos os terroristas...) e os Estados Unidos. Digo Estados Unidos, porque ninguém me pode obrigar a sentir solidário com uma decisão da qual discordei desde a primeira hora. Ninguém é obrigado a comprar esta aventura.
Quem percorrer a blogosfera por estes dias, poderá constatar a onda de hipocrisia e demagogia que por aí anda. Há quem se arvore em porta-voz do povo iraquiano (!), quem diga que não conseguiria dormir se o ditador iraquiano continuasse no poder (curioso - conseguem dormir com os ditadores chineses, por exemplo, no poder; curioso - conseguem dormir depois de verem milhões a morrerem de Sida em África por falta de medicamentos...)
O que se está a passar no Iraque, insisto, é uma guerra aberta entre os EUA e os terroristas. Uma guerra que os EUA compraram e da qual não sei como vão sair (começa-se a perceber, de resto, que nem eles sabem). E não me venham dizer que o terrorismo só se pode combater com a guerra - onde estão os serviços secretos? para que serve a diplomacia? para que servem as instituições internacionais? onde pára a ajuda ao desenvolvimento?
Não me venham dizer, por isso, que Portugal vai para o Iraque ajudar os iraquianos. Ninguém passou mandato a ninguém para defender os iraquianos.
Entende agora o Bloguitica porque os antecedentes de toda esta situação não podem ser postos de parte em qualquer debate sobre o presente do Iraque?