Objectividade (I)
De Laura Rubin, uma das leitores mais assíduas e atentas deste TdN, recebi um e-mail a propósito de uma breve alusão que fiz ao texto «Factos, Opinião & Jornalismo» do Retórica. Eis um excerto que me parece de interesse geral:
«Passe a trivialidade, não posso deixar de concordar que um jornalista não é uma ilha e que, consequentemente, a objectividade que se lhe exige não pode deixar de ser caldeada pelos seus conhecimentos, pela sua ideologia, pela sua educação, enfim, pelo seu eu. Mas creio que lhe é exigível o máximo de imparcialidade na narração (em sentido estrito ou lato) dos factos que compõem a notícia. Um editorial, uma coluna ou artigo de opinião são uma coisa; a notícia, aquilo que o leitor do jornal pretende saber para formar a sua própria opinião, não pode deixar de ser outra.
Parece-me existir uma aparente similiritude na advocacia de barra e o jornalismo. Na fase dos articulados, um advogado limita-se (quase em absoluto e em boa técnica) a narrar factos, o que me parece também caber a um jornalista, no exrercício da função de informar. Contudo, há nessa narração uma nuance vital: enquanto o advogado narra com o fito querido de convencer o Tribunal da bondade da sua versão sobre a realidade de determinado(s) facto(s), já o jornalista não pode deixar de narrar com o fim último de informar imparcialmente, transmitindo ao leitor os dados que lhe permitam formar a sua própria opinião. Óbvio, ao fazê-lo perpassará, em última instância, a sua subjectividade, o seu conhecimento ou a sua ignorância. Contudo, creio que o jornalista investido da função de informar, não pode deixar de ser aquele que narra os factos despidos de toda a carga ideológica e subjectiva que humanamente seja possível.
Não confundo esta narração com a do tipo agência noticiosa, pobre e quase sempre descontextualizada. Compete ao jornalista, parece-me, contextualizar, relembrar ocorrências relacionadas, contradições, etc, isto é todos os factos ainda que instrumentais do núcleo da noticia. E embora creia que possa ser nesse campo que a fronteira entre a informação e a opinião se torne mais ténua, estou em crer que esse exercício não só é possível, como é exigível ao jornalismo de informação, mantendo-se dentro das tais balizas da isenção, objectividade e imparcialidade. Estarei errada?»
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