País aturdido
Mário de Carvalho, um dos melhores escritores portugueses, acaba de lançar um novo livro, Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina, a propósito da qual deu uma entrevista ao Jornal de Letras.
«Para usar um vocábulo muito em desuso: o país está alienado. Está completamente dependente dum vocabulário rasca, do futebol e do lixo televisivo, fenómenos que minaram todas as nossas reservas de crítica e bom gosto. É uma situação que me preocupa muito, embora, neste livro, o aborde pelo lado do riso. Portugal, tal como está, é desgostante. Dá vontade de emigrar! O mau gosto tomou conta do ensino, da política, do autêntico espectáculo circense em que se transformou o futebol, e das universidades.»
O Jornal de Letras publica um excerto do livro:
«Assola o país uma pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa multiplicação ansiosa de duos, trios, ensembles, coros. Desde os píncaros de Castro Laboreiro ao Ilhéu de Monchique fervem rumorejos, conversas, vozeios, brados que abafam e escamoteiam a paciência de alguns, os vagares de muitos e o bom senso de todos. O falatório é causa de inúmeros despautérios, frouxas produtividades e más-criações. Fala-se, fala-se, fala-se em todo os sotaques, em todos os tons e décibeis, em todos os azimutes. O país fala, fala, desunha-se a falar, e pouco do que diz tem o menor interesse. O país quer aturdir-se».
Não sei o que acham, mas parece-me que o Mário de Carvalho escreveu isto após uma noite inteira a ler blogues.
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