domingo, 14 de dezembro de 2003

Eu apanho as canas

Não foi apenas Saddam que os americanos apanharam hoje no Iraque. Fomos todos nós, os que andámos aqui a defender o terrorismo, a ditadura, o fundamentalismo islâmico. Todos nós, que andámos aqui a dizer mal dos americanos (abençoados, sejam!!! Hip, Hip), dos ingleses (idem, idem...) e (hossanas, hossanas...) do nosso Zé Manel.
Sim, há que reconhecê-lo. Também nós fomos derrotados, também nós fomos apanhados.
Nós, cuja fé nos levava a escrever que o terrorismo internacional, o fundamentalismo islâmico, em suma, o MAL, haveria de vencer esse vento de democracia, de liberdade, de pura alegria, que sopra da América.
O Saddam ainda se safa. Está preso, vai ser julgado por imparcialíssimos juízes iraquianos. E, pronto, lá cumprirá uma pena de prisão.
Agora... e nós. Sim, nós que tudo demos por ele? Nós que temos um blogue para alimentar. Sobre o que vamos escrever agora. Como poderemos continuar a defender aquelas coisas do multilateralismo, das Nações Unidas, dos Direitos do Homem, do diálogo internacional, do direito dos povos à auto-determinação? Com que cara encararemos os festejos nacionais? O feriado nacional, o Portas a passar revista às tropas em frente aos Jerónimos, o discurso à Nação do Zé Manel, as colunas do Delgado (oh, meu Deus, as colunas do Delgado...). Sim, como acharemos nós que ainda temos direito ao nosso quinhão de ar puro?
E agora? - insisto. Será melhor ficarmos calados, tentar disfaçar, alinhar mesmo nas comemorações? Ou será melhor pedir humildemente desculpa? Eu, por exemplo, poderia prometer escrever apenas sobre a Joni Mitchell (perdão, talvez seja um bocadito à esquerda, contestatária...). O melhor mesmo é garantir que só escrevo sobre Jacques Brel. Também era contestatário, mas está morto.
Para já, para mostrar a minha boa vontade - encarrego-me de apanhar as vossas canas. É que estão a deitar tantos foguetes, a beber tanto champanhe, que alguém terá de se encarregar desses trabalhos menores. 'Tá bem, pronto - eu apanho as canas.