terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Ferro, a cabala, os comentadores

Na última semana, os opinion makers deram em fazer contraponto entre as atitudes de Carlos César, nos Açores, e as de Ferro Rodrigues, em Lisboa, acerca da pedofilia.
Esse contraponto - que tem subjacente a ideia de que César esteve muito melhor que Ferro - baseia-se em dois aspectos: a não demissão de Paulo Pedroso versus demissão de Ricardo Rodrigues, e a estafada tese da cabala. Resolvi, por isso, ler a entrevista de César ao Público. E o que diz ele?
Sobre a demissão: «Um Clima de Suspeição no Tribunal da Opinião Pública Não É Compatível com a Permanência em Cargos de Decisão». A diferença entre cargo de representação e cargo executivo é fundamental quando se aborda a questão da responsabilidade política. É por isso que não faz sentido comparar as decisões tomadas por Paulo Pedroso com as que Fátima Felgueiras não tomou ou com as que agora foram tomadas nos Açores.
Sobre a cabala: «No país não pode haver concerteza uma cabala à volta destes problemas, embora não deixe de ser curioso que as investigações em geral se tenham dirigido às pessoas a que se dirigiram. Penso e repito que a cabala - a existir - é posterior a todos esses processos de investigação ou a todos esses boatos. A cabala é falar sistematicamente do dr. Paulo Pedroso ou não falar dos inúmeros casos de corrupção que já deram origem à queda de membros do Governo da República. Parece que há pessoas que caíram no anonimato, num manto de silêncio depois de saírem do Governo acusados de actos de corrupção.» Ou seja, Carlos César diz exactamente o que toda a direcção do PS tem andado a dizer desde o início. Que há abordagens duplas na vida político-mediática em Portugal.
O que terá levado os comentadores a dizerem o que disseram? A análise do que foi dito ou simplesmente o desejo de chatear Ferro?