Judeus
Tivesse eu a mania da perseguição ou simplesmente o raciocínio apressado que faz os nossos dias e a esta hora estaria aqui a escrever que a blogosfera portuguesa foi atacada por uma conspiração judaica. Isto a avaliar pelo volume, e por vezes o tom, das reacções que surgem sempre que se fala de judeus, anti-semitismo e temas conexos.
Foi o que aconteceu agora com o Mar Salgado (via FNV) e a Rua da Judiaria.
O tema interessa-me, antes de mais, na medida em que é revelador do empobrecimento do debate a que assistimos por todo o lado. É certo, fala-se muito, por exemplo, nos blogues, mas não devemos confundir a multiplicidade das vozes com a profundidade ou a clareza da conversa.
É claro que não considero que o tema do anti-semitismo deva ser tabu. Mas também não acho que na Europa isso esteja a acontecer. O debate surgiu porque uma organização ligada à UE decidiu suspender um pré-relatório que considerou deficiente e promete fazer um de melhor qualidade. Não tenho razões para duvidar. Na qualidade de jornalista, já assisti várias vezes a recuos e desmentidos de notícias simplesmente porque se baseavam em estudos ou trabalhos preparatórios e não em decisões políticas.
Depois, não nego que continuem a existir actos anti-semitas na Europa. Como se mantêm os actos racistas nos EUA, em África e por aí fora. Como persistem várias formas de intolerância à escala global. O que eu acho é que o anti-semitismo na Europa não tem os níveis preocupantes que vejo assinalados em alguns sítios. É claro que a intolerância é sempre preocupante, mas as coisas têm de ser ponderadas.
Parece-me natural que nas manifestações pró-palestinianas se confundam sistematicamente as críticas a Israel com o anti-semitismo. É errado, eu sei. Mas digam isso às multidões, ou melhor, aos fanáticos. Também acho que a sistemática diabolização que os judeus fazem dos muçulmanos não ajuda muito.
Já me parece que entramos no reino do disparate quando se mete ao barulho a esquerda e os movimentos anti-globalização. Quanto a estes últimos, distingo claramente entre os movimentos tipo «forum social», onde a esquerda imprea, e as manifestações de puro hooliganismo. Nestas últimas, há hippies misturados com skinheads, esquerda com direita, etc etc. Ligar isto à esquerda parece-me simplesmente desonesto.
Também me parece exagerada a ideia de que essas manifs são anti-judaicas porque por lá aparece um ou outro cartaz. Algumas claques de futebol usam símbolos nazis e eu, que nem gosto de futebol, não me ponho a dizer que os adeptos da bola são nazis.
Parece-me que o essencial fica dito. Quero apenas esclarecer o FNV, do Mar Salgado, que considero, de facto, patetas e doentias as posições e os debates que não saem da diabolização da «esquerda» e da «Europa». Há muito que o mundo não é a preto e branco... se alguma vez o foi.
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