quinta-feira, 11 de dezembro de 2003

O PSD, as presidenciais e JPP

O artigo de Pacheco Pereira, hoje no Público, sobre A questão presidencial no PSD, é de uma inteligência e clareza que me parecem raras no comentário político em Portugal. É um daqueles artigos que se baseia apenas no bom senso - o seu conteúdo deveria, pois, ser evidente para todos. Mas não é - no turbilhão político-mediático anda tudo baralhado, o fundamental é apresentado como acesssório, o acessório tem honras de primeira página.
Registo e comento algumas das ideias centrais de JPP:
1. Não existe qualquer diferendo entre Sampaio e o PSD e inventá-lo só pode prejudicar o PSD. Exemplo: o que Sampaio disse na Argélia sobre o Iraque é a sua posição de sempre. Afirmar, como se disse em Portugal, que o disse em Argel para agradar a argelinos é de uma injustiça total. No essencial, Sampaio nunca prejudicou a política pró-EUA de Durão. Eventualmente, desiludiu quem o elegeu.
2. A dupla Santana/Portas está a assumir um peso excessivo na área do poder. Durão Barroso terá abdicado da condução ideológica e mediática da coligação, o que lhe pode valer amargos de boca a prazo.
3. JPP define certeiramente a função presidencial: «carácter estabilizador e regulador». Defendi essa tese num debate com o Mata-mouros, em contraponto a uma postura mais interventiva. Nestes tempos de algum reformismo a todo o custo, haja quem tenha os pés no chão.
4. Clarificação da famosa frase de Sá Carneiro - «um governo, uma maioria, um presidente». A ideia era instrumental, não um fim em si, e está datada historicamente. Brandi-la hoje não tem qualquer significado.
5. A desfocagem da definição presidencial e das relações institucionais, aliada à entrega da condução política à dupla populista Santana/Portas, pode ser a receita para o desastre.
6. Em toda esta história - como já perguntei aqui há umas semanas - só não se percebe qual o papel de Durão Barroso. Ou se Durão está(va) ciente de tudo o que JPP agora escreve.
Uma das questões fundamentais para se compreender o que se passa no centro-direita é tentar perceber as razões profundas e os eventuais acordos que estiveram por detrás das duas capitulações de Durão Barroso - primeiro perante o seu amigo Santana, de quem foi amigo, depois inimigo para depois ficar amigo; depois de Portas, contra quem tomou conta do PSD e contra quem conduziu um PSD que nada tem a ver com este PP, para depois lhe cair nos braços.
Acho que este também é um aspecto que preocupa JPP e que, de alguma forma, está presente nos seus escritos mais recentes. Ele, que até é amigo pessoal de Durão, tem-no alertado insistentemente para o facto de estar a meter a cabeça na boca do lobo. Avisos não têm faltado.