Um julgamento justo (II)
Perguntam-me dois leitores o que quero dizer com as dúvidas acerca de um julgamento justo de Saddam. Será que defendo a sua eliminação pura e simples?
Nada disso. E as dúvidas que expresso são genuínas e a pedirem ajuda.
A Humanidade não tem muita experiência no julgamento de ditadores, pelo menos deste calibre.
Como se julga alguém preso numa operação militar e acusado de uma vastíssima panóplia de crimes, que se estendem ao longo de, pelo menos, duas décadas e extravasam fronteiras?
Há as questões processuais: que provas apresentar, que testemunhas, que contraditório poderá ser feito?
E há a questão de fundo: uma democracia pode julgar um ditador?
Quando a democracia julga a ditadura, a sentença é anterior ao próprio julgamento.
São questões que, a meu ver, estão longe de serem pacíficas e que mexem fundo com as concepções que temos da política e, mais importante, da Humanidade.
Apesar disso, não espero respostas. A minha postura, neste caso concreto como no resto, é mais de problematização do que opinião. Neste ambiente, em que toda a gente tem certezas absolutas e irrefutáveis sobre tudo e mais alguma coisa, só espero reacções do tipo: «Lá está ele a defender o Saddam, por vias tortuosas, mas a defender o Saddam». Não é nada disso... mas que se lixe.
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