Mentiras e decepções
Segundo o Guardian de hoje, a história de que Saddam poderia activar armas de destruição maciça em 45 minutos terá sido fornecida aos serviços secretos por iraquianos no exílio, sem qualquer base credível de sustentação.
O facto de a história estar a ser revelada por um jornal próximo dos trabalhistas (embora se tenha distanciado na guerra do Iraque), na véspera do relatório Hutton que ditará o futuro de Blair, poderá ser sinal de que Downing Street se prepara para o pior e começa a arranjar bodes expiatórios.
Mas a notícia levanta outro problema.
Há uns meses, a Casa Branca fez saber que muitas das informações erradas acerca do regime de Saddam - por exemplo, o poderio da famosa Guarda Republicana, que se prepararia para defender Bagdad a todo o custo - teriam sido fornecidas pela oposição no exílio, nomeadamente por Ahmed Chalabi, hoje na primeira linha para o assalto ao poder na era pós-ocupação.
É natural que os exilados iraquianos, embora tendo acesso a alguma informação do que se passava dentro do país, tenham exagerado na forma como a transmitiram aos aliados ocidentais. Queriam, afinal, forçar a invasão, procuravam aliados.
O que é espantoso é a alegada ingenuidade com que os serviços secretos de Londres e Washington paparam essa informação. Isto na versão ingénua. A versão que atribuiu às deficiências dos serviços secretos a derrota moral que constituiu a guerra do Iraque.
Porque, a História talvez o venha a esclarecer mais cabalmente, o verdadeiro problema poderá antes residir no facto de que, nesta era de super-informação, de aparente transparência, paradoxalmente a mentira se esteja a afirmar como instrumento fundamental da governação.
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