quinta-feira, 5 de fevereiro de 2004

Anabela e os blogues

Quando aqui cheguei, não me apresentei, nem mostrei BI. Assinei jmf e fiquei satisfeito. Não sou estrela dos media, mas também não sou anónimo. Tenho o nome profissional que a lei obriga. Senti-me bem com o semi-anonimato - o que ia escrevendo valia por si, no círculo das amizades/conhecimentos toda a gente sabia.
Nesses tempos recebi apenas dois mails equivocados, um simpático, o outro nem por isso. Eram ambos para o director do Público e a única coisa que me espantou foi a distracção de quem os escreveu.
Há uns dias, decidi pôr o nome por extenso na primeira página, sem que isso tenha alterado uma vírgula do que escrevi a seguir.
Para essa mudança foi decisiva a polémica que cresceu à volta de um blogue chamado Possibilidade do Sentir, cuja autoria muita gente (e eu também) atribuiu a Anabela Mota Ribeiro. Pouco interessa se nos enganámos.
Interessa que, pela primeira vez, senti um mal-estar muito grande na blogosfera. Porque já tínhamos tido dois anónimos ilustres - o Pipi e o Mentiroso -, mas em ambos os casos o anonimato fazia parte do jogo.
Porque, quanto ao resto, anónimos ou nem tanto, lá nos fomos entendendo. Com regras de conduta e de ética não escritas, damos turras, turras valentes, descobrimos cumplicidades, seguimos caminho.
Diria que nos blogues encontrei um sentido de honestidade e responsabilidade que não encontrara noutros locais com regras aparentemente mais consolidadas.
Todos sabemos que este meio convida à usurpação do nome, embora o Blogger imponha regras (a versão brasileira é ainda mais exigente). Mas isso não nos precocupava, porque estávamos aqui com sinceridade, de livre vontade, com o coração aberto, se quiserem.
O tal blogue veio quebrar essa regra. Tanto se me dá se a autora é a tal Anabela, ou outra Anabela qualquer. Sei que, pela primeira vez em muitos meses, alguém tenta manter uma mentira. Disso não gosto.
[Este texto - e outro que há-de surgir qualquer dia - estava prometido há uma semana. Apesar de por aqui se falar muito de política, isto é o mais próximo que consigo chegar da política - a dificuldade de cumprir as promessas.]