O défice, essa ilusão
Quando Durão Barroso chegou ao Governo impôs a norma de cada ministério ter apenas um assessor de imprensa. A ideia era pôr cobro ao regabofe socialista, que tinha criado uma invejável rede de emprego a este nível. A verdade é que, hoje, a maioria dos ministérios tem gordas assessorias de imprensa, que os secretários de Estado têm assessores de imprensa e que a generalidade dos gabinetes ministeriais têm assessorias políticas, pagas a peso de ouro, que fazem inveja a qualquer empresa privada (o ministro da Defesa até faz gala de que se saiba...).
Isto, na verdade, não tem nada de mal - governar é, nos dias que correm, uma mistura de 10 por cento de trabalho com 90 por cento de relações públicas. O que está mal é a hipocrisia, a demagogia eleitoralista.
Vem isto a propósito do que escreve o Liberdade de Expressão. É claro que as mordomias pouco peso têm nas contas públicas - não são umas dúzias de assessores a ganharem mais que ministros que as desequilibram.
Não, nada disso. Trata-se apenas de um dos sintomas. No Estado, seja nesta superficialidade, seja nas questões mais sérias, pouco ou nada se fez nos últimos anos. O Estado continua gordo, ineficaz, gastador. E isto pouco tem a ver com os funcionários públicos. Isto tem mais a ver com deficiência de gestão. E isto também nada tem a ver com o Estado social - um país, economicamente atrofiado como Portugal, vai precisar, por muitos anos, de um Estado social forte.
A redução do défice advém, quase exclusivamente, dos cortes nos investimentos e das receitas extraordinárias. Os primeiros vão ter que abrandar - não para fomentar a retoma económica, mas porque vem aí um ciclo eleitoral muito prolongado - e muitas das segundas são irrepetíveis (venda de património, cessão de créditos fiscais...). Nessa medida, o défice apresentado é em boa medida artifical, não consolidado.
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