segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004

O poder dos media (caso prático)

Uma semana após a histórica dupla manchete sobre Vitorino /Marcelo /Jardim /Amaral, comentada e achincalhada na pequenita aldeia global que vai de Lisboa a Cascais (com passagem pelo eixo Leça/Gaia), o Expresso dedica-se a ajustar contas.
Em Nota Editorial, chama burros a todos os que puseram em causa as duas notícias. Eram boas porque eram... surpreendentes. Bah...E depois o estafado argumento: os desmentidos ainda vão ser desmentidos. É claro que o Expresso dá exemplos, mas qualquer um de nós poderia dar outras de sinal contrário (basta, de resto, consultar as páginas de cartas da mesma edição).
Depois, na coluna do arquitecto, explica-se como o cargo de comissário assentaria que nem uma luva ao professor Marcelo. Dá-me ideia que o argumento poderia ser usado para qualquer cargo que se inventasse para o professor, mas enfim.
O mais fantástico vem, no entanto, nas páginas de noticiário político. Em pequenos e sarcásticos textos, achincalha-se os comentários com que as personalidades da dupla manchete receberam a bênção de tais notícias. Basicamente, diz-se: não aceitam as ofertas do Expresso? Pois ainda se vão arrepender...
Ou seja, o Expresso exerce o seu poder em circuito fechado. Dá notícias sobre políticos, que os políticos comentam, que o Expresso comenta, que depois hão-de dar outras notícias... Nada disto tem verdadeiramente importância, o povo está a Leste. Mas a verdade é que o Expresso acaba por assumir um papel central na via política portuguesa - uma espécie de rotunda, um distribuidor rodoviário de tráfego político.