sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004

O respeitinho

Há uma semana insurgi-me porque andava por aí um tolo a dizer que tinha saudades de Salazar.
Venho agora pedir desculpa. Percebi, pelo que li nos últimos dias, que se trata de um sentimento generalizado. E que posso eu contra a turba?
Vejo que há quem peça e aplauda um acordo inócuo entre o PSD e PS à volta de temas esotéricos e sem qualquer interesse prático para a nação. Só em nome do consenso. E eu que pensava que, sendo o PSD e o PS tão parecidos, do que o povo gostaria era que cada um dissesse que propostas concretas tem para os tais problemas muito complicados da pátria. Para a malta poder escolher...
E vejo também que há muito gente ofendida pela dureza e/ou clareza do debate parlamentar e extra-parlamentar. Que não se pode falar assim, que assim a política resvala, que patati-patatá... E eu que pensava que chamar os bois pelos nomes era o melhor serviço que os políticos podiam fazer à nação. Sim, que de falinhas mansas e de tudo ao centro já estamos um bocadinho fartos.
Vejo, pois, que há por aí muito quem goste do consensozinho, seja ele expresso em papel timbrado (mesmo que escrito à mão...) ou em debates parlamentares educadíssimos e charlas televisivas bem compostinhas.
Ou seja, vejo que há muita gente que, no fundo, gostava era que voltasse o respeitinho, sim, o respeitinho é muito bonito. Salazar, pois então. De preferência na versão mais serôdia do marcelismo (de Caetano, não confundam...), que sempre deixa as consciências democráticas mais descansadas.