terça-feira, 2 de março de 2004

As vacas sagradas

O novíssimo Blasfémias publica uma lista que é espelho dos múltiplos equívocos que afligem a opinião publicada em Portugal. Numa total inversão de valores, LR chama Vacas Sagradas àqueles que são, verdadeiramente, os bombos da festa. Daí resulta o habitual enviesamento de qualquer debate. Vejamos dois ou três exemplos:
Mário Soares - não há cão nem gato que não se atire ao homem: vem um e chama-lhe criminoso por causa da guerra colonial, vem outro e diz que o homem anda a proteger os criminosos da Casa Pia. Nos últimos anos, não houve percalço da democracia portuguesa a que não tenha sido associado. Vaca sagrada? No último debate público que manteve não foi ele o protegido pelos media e opinadores, mas sim a outra parte... como de costume.
A Classe Jornalística - exageram-lhe o poder, a influência, para conferirem legitimidade à bordoada geral. Seja a propósito do Iraque, da Casa Pia ou do simples esgoto da esquina, a culpa há-de ser sempre de um qualquer jornalista. Ou porque escondeu, ou porque mostrou. ou porque não era bem assim, ou porque era mais assado...
A Função Pública - de quem é a culpa de Portugal ser uma desgraça? Pois obviamente dos funcionários públicos, essa corja de inúteis. Todos despedidos ainda era pouco. É claro que o sector produtivo nacional - privado, onde não há funcionários públicos - é de uma incompetência que brada aos céus. Mas é muito mais cómodo atacar essas vacas sagradas da função pública.
Concluindo - e usando a mesma linguagem bovina do Blasfémias - diria que em Portugal há é muita vaca louca, malta que não sabe, ou não quer saber, do que fala. Vacas sagradas, felizmente, há muito poucas.
[Actualização: lista por lista, a do Driving Miss Daisy é mais bovina].