terça-feira, 2 de março de 2004

Ferreira Torres e o resto

O episódio Avelino Ferreira Torres tem um aspecto aparentemente secundário que, a meu ver, é bem mais importante que a figura patética do troglodita. Essa, haja um juiz com tomates, e vai dentro. Mas isso do juiz com tomates prende-se precisamete com o que quero dizer...
O tal aspecto secundário é a impotência, a conivência, a quase convivência, a inutilidade dos GNR que, pacientemente («então sô dôtor, vamos lá, sô dôtor...»), tentam acalmar a fera.
Um dos problemas deste nosso pequenino Portugal é que, fora dos grandes centros (e às vezes nos grandes centros), toda a gente se conhece. Que soldado da GNR de Marco de Canavezes se atreveria a dar voz de prisão ao autarca? Que delegado do Ministério Público do Marco ou lá perto se atreve a abrir um inquérito? Que juiz se atreverá a mandá-lo para a prisão?
Todos se conhecem e partilham muito mais que a paixão pelo futebol. Nesses meios pequenos, é tal a cadeia de solidariedades, de cumplicidades, que nada pode acontecer.
Por esse país fora, quantas prepotências, quantos escândalos, quais ignomínias estarão abafadas só porque o juiz é compadre do presidente da câmara, que por sua vez vai à caça com o principal empresário lá da terra, que tem um caso com a mulher do capitão da GNR, que é irmã do director do hospital, o qual é casado em segundas núpcias com um agente da PJ colocado na vila mais próxima...
O caldo só se entorna quando uma dessas cadeias se quebra. Como aconteceu em Felgueiras.