sexta-feira, 30 de abril de 2004

Corrupção e democracia

O Optimista Esclarecido [já estava na hora de aparecer alguém que, além de optimista - coisa rara, acha que tem razões para o ser...] chama-me a atenção para um deslize que terei cometido quando abordei aqui os casos de corrupção que por aí andam e uma declarações feitas por Maria José Morgado [aproveito para fazer o link de onde colhi a frase].
Longe de mim considerar que é a democracia a gerar a corrupção. Penso interpretar corrrectamente MJM se disser que a ênfase está no verbo. Ou seja, por estarmos em democracia, podemos dizer que temos corrupção. Temos a percepção da corrupção.
Nos regimes não democráticos, a corrupção é um dado adquirido. Não consigo imaginar nenhum regime autoritário que não assente pelo menos parte dessa sua característica em mecanismos de corrupção. Visto de outra forma, talvez seja incorrecto falarmos em corrupção nesses regimes, visto que essa actividade não se distingue na matriz essencial do próprio regime.
Mas, já agora, sempre acrescento que a democracia, enquanto regime que garante o acesso (teórico, pelo menos) de toda a gente ao poder, aos centros de decisão e ao poder económico, acaba por, indirectamente (diria que inadvertidamente...), potenciar as hipóteses de existência de corrupção. Isso, é claro, será mais que insuficiente para uma crítica à democracia - simplesmente, isso resultará naquilo a que poderíamos chamar de democratização, generalização, da corrupção.
No fundo, não deixo de concordar com o essencial do que escreve o Optimista. Só não queria que se gerassem equívocos sobre o que eu próprio penso.