domingo, 11 de abril de 2004

(R)evoluções

Há uma pequena polémica sobre os slogans e os cartazes comemorativos do 25 de Abril.
Vamos por partes.
Em Portugal não houve revolução, no sentido clássico do termo. Houve um golpe de estado seguido de um período confuso, mas nunca chegaram a estabelecer-se, por tempo suficiente e com a profundidade necessária, os mecanismos próprios das revoluções. O Copcon durou o que durou e o Conselho da Revolução só tinha o nome. Mas, acima de tudo, em Portugal estabeleceu-se com relativa rapidez uma democracia parlamentar sustentada, de todo incompatível com qualquer conceito de revolução.
A queda do R não me incomoda, portanto.
Tivémos, então, evolução. Mas isso, meus amigos, é uma banalidade. Nas condições, geográficas nomeadamente, em que Portugal se encontra, dificilmente seria de outra maneira.
E os cartazes?
O slogan «Isto só neste país» e a ideia de potenciar as coisas boas que aconteceram no pós 25 de Abril, se é uma boa ideia na medida em que alimenta a tal auto-estima tão debilitada, não deixa de resultar em propaganda subliminar para o poder estabelecido.
De qualquer forma, convém não ser muito excessivo no foguetório. Basta ler o estudo A Situação Social em Portugal, 1960-1995, coordenado por António Barreto, para percebermos que muitas daquelas linhas e curvas de crescimento já vinham de antes do 25 de Abril. Talvez devido aos tais factores de inevitabilidade de que falei atrás. Talvez o 25 de Abril tenha sido apenas factor de aceleração. Meramente no plano teórico, seria interessante polemizar sobre o modo como um regime tão fechado como foi o nosso até 74 lidaria com essas tensões modernizadoras que já se faziam sentir na recta final.
Resumo do que interessa: a campanha não me parece má, até porque rompe com alguma pasmaceira das anteriores. Já está a dar polémica... E até aquela coisa de favorecer o poder actual tem que se lhe diga. Por exemplo, tenho à frente um anúncio sobre a grande evolução nos centros de saúde que termina em.... 2001.