terça-feira, 13 de abril de 2004

A vitória americana, a derrota de Bush

Sobre o que se passa no Iraque, não tenho muitas dúvidas. Gostaria que os americanos se saíssem bem daquilo. Tenho uma visão optimista da História, gosto de pensar que cada vez há mais democracia no mundo, que o bem, num sentido relativamente difuso, está permanentemente a ganhar ao mal, por mais que nos pareça o contrário.
Acho que os EUA estiveram errados desde a primeira hora, que estão profundamente errados em tudo o que diz respeito ao Iraque. Mas não consigo conceber outra saída para aquele turbilhão que não passe pela vitória dos EUA. Porque, acima de tudo, apesar de tudo, são os americanos que representam, naquele cenário concreto, uma data de coisas em que acredito.
Há um princípio essencial que este meu desejo põe em causa - o direito dos povos à auto-determinação. A escolherem a sua via, o seu futuro, por muitos erros que cometam. Essa ideia foi ferida de morte por Bush quando decidiu avançar para esta loucura.
Mas, agora, há ali um problema. Prefiro que ele seja resolvido com a vitória do bem, o conjunto de valores em que me revejo, a democracia.
Nada disto impede que, deste lado da barricada, discutamos, entre nós, os do campo do bem, o que se passou. O que correu bem e o que correu mal. É isso a democracia.
Por isso, quero que os EUA ganhem no Iraque, ganhem o Iraque. Mas também quero que Bush perca em casa. Estou convicto de que, ao defender duas coisas aparentemente contraditórias, estou, no fundo, a defender esse conjunto de valores a que, por comodidade, identificamos com as democracias ocidentais.