quinta-feira, 20 de maio de 2004

A cor da indignação

Prisão de presos políticos em Cuba? Condeno.
Mulheres sem direitos no mundo árabe? Condeno.
Ataques terroristas seja onde for? Condeno.
Tortura seja onde (e quando) for? Condeno.
Mas - note-se bem - tudo isto se passa em regimes autoritários, vulgo ditaduras. Até as famosas sevícias no nosso PREC - durante alguns meses, fomos governados, de facto, por uma aliança político-militar não eleita, logo ditatorial.
Condeno, repito, todos esses actos, mas, mais que condenar esses actos, condeno o que permite esses actos - ou seja, a existência de regimes autoritários, sejam eles de que cor forem.
Outra coisa, bem diferente, são esses mesmos actos cometidos em democracia, por governos democráticos.
É por isso que condeno, com muito mais veemência, a tortura feita pelos americanos do que a que era feita por Saddam. É por isso que me incomoda mais a morte de inocentes às mãos do governo democrático de Israel do que às mãos dos terroristas palestinianos.
É por isso que, em suma, há coisas que me indignam mais que outras. Porque gostava que o nosso lado, o lado da democracia, não tivesse tantos telhados de vidro.
[Dedicado a'O Acidental.]