sexta-feira, 21 de maio de 2004

Democracia

Correndo o risco de me repetir, aí vão uns esclarecimentos a'O Acidental.
É próprio das ditaduras cometerem barbaridades. É genético. Que torturem, censurem, matem, façam trinta por uma linha - tudo isso me parece natural.
Fidel manda prender uns jornalistas? Eu protesto, subscrevo abaixo-assinados, mas acabo sempre a concluir: «Bolas, mas o gajo é um ditador, que poderia ele fazer senão prender jornalistas?» Não há memória de ditadores bonzinhos... Isto, obviamente, não desculpabiliza os ditadores, simplesmente porque eu os condeno à priori. Eu sou é contra a existência de ditadores, não contra o que eles fazem - eles fazem-no porque são ditadores.
É por isso que não tenho dúvidas algumas - se Churchill tivesse criado campos de concentração para judeus, eu condená-lo-ia com muito mais veemência do que condenaria Hitler. Porque, se Churchill matasse judeus, qual seria a sua autoridade moral perante Hitler? E eu ainda sou daqueles que acreditam na superioridade moral das democracias.
Quanto às discussões intra-muros - ou seja, ao debate da democracia dentro da democracia - estou disponível para todos. A democracia tem de aceitar ser posta constantemente em causa, isso fortalece-a. Quando a democracia começa a impôr limites ao debate interno aproxima-se da ditadura. Não tenho, por isso, medo do debate, da liberdade de imprensa, da justiça. Em democracia, aceito até exageros democráticos - excesso de debates, justiça apressada... - porque sei que, no fim, a democracia arranja forças para sobreviver e fortalecer-se. A democracia americana ganhou com o Watergate - não me passaria pela cabeça dizer que o Watergate pôs em causa os fundamentos da democracia americana - ao contrário de Vasco Rato, que teme que o Bloco ponha em causa a nossa democracia.
A coisa vai longa. Apenas mais um ponto - onde está «ditadura» poderá ler-se, apenas no contexto deste debate, «terroristas».