segunda-feira, 24 de maio de 2004

A Venezuela é uma chatice

Há meses que andava para escrever sobre a Venezuela. Mas a Venezuela é uma chatice - conheço poucos países com uma situação política tão complexa como aquela. E a chatice maior é que aquilo vai dar banho de sangue - golpe de estado, invasão, guerra civil.
Acabo por escrever sobre a Venezuela pelas piores razões.
FNV, no Mar Salgado, acha que um dos problemas da Venezuela é a liberdade de expressão. Ora esse é, precisamente, um dos problemas que a Venezuela não tem.
A Venezuela tem uma televisão e uma rádio do estado - são iguaizinhas à nossa RTP de 74/75, uma chatice, com debates monocórdicos, só que a cores.
E depois tem meia dúzia de poderosos canais de TV privados e um vasto conjunto de jornais diários, pujantes, todos privados. Quem controla o grosso da fatia é Gustavo Cisneros, que a revista Forbes considera o segundo mais rico da América Latina e um dos cem mais ricos do mundo, mas que a revista Newsweek disse ter sido o orquestrador do golpe de Estado de Abril de 2002 contra Hugo Chávez.
Quer os jornais, quer as televisões, as de Cisneros e as de outros empresários, estão em permanente e super-agressiva campanha contra Chávez. Seriam proibidas em qualquer país europeu - não por questões de liberdade de imprensa, mas por violação das mais elementares regras do Código Civil.
FNV prefere acreditar que o dono do El Nacional (só um dos dois maiores jornais do país...) foi agredido no Metro quando estava com jornalistas estrangeiros. FNV, se quiser, pode acreditar em histórias da Carochinha...
Um dos aspectos mais curiosos da Venezuela - por isso lhe chamei caso muito complexo - é que os laivos autoritários (não sei se lhes chame ditatorais, porque parece que FNV tem o monopólio e decidir sobre essas coisas...) sentem-se nos centros de decisão política, no domínio das forças armadas e na justiça. Mas não noutros aspectos - por exemplo, nas matérias de liberdade de expressão: as manifestações são diárias (a violência, de parte a parte, repito, de parte a parte, também...) e os media funcionam em total liberdade - Chávez vai aprovando umas leis para controlar os media, aos quais os media não ligam peva, ficando tudo na mesma.
É claro que poderíamos discutir a política de Chávez, porque chegou Chávez ao poder, o que querem os seus opositores... Quanto aos jornalistas venezuelanos, estou-me nas tintas.