Ainda Sousa Franco
Hoje era o dia em que, inevitavelmente, haveria de arranjar uma piadola qualquer, que meteria obrigatoriamente futebol e política, para justificar a ausência dos próximos dias.
Acabou por ser o dia em que não me apeteceu escrever nada.
A morte convida-nos sempre ao silêncio.
As circunstâncias da morte de Sousa Franco - e mesmo a sua personalidade ímpar - exigem, porém, profunda reflexão pública. Não será este o momento, nem será certamente este o local. Mesmo assim, aí ficam dois apontamentos.
Desde logo, acerca da forma como estamos a fazer política (escrevo na primeira pessoa do plural, porque a política é uma actividade à qual não se pode fugir - a abstenção, em sentido lato, é uma forma de fazer política). A peixeirada na lota de Matosinhos talvez não tenha contribuído para a morte de Sousa Franco (quem o pode garantir?), mas foi mais um episódio de uma triste campanha, a vários títulos exemplar. E o pior é que, no retrato, poucos ficámos bem.
Depois, quanto ao exercício concreto da política. Nem todos os políticos são iguais, ao contrário do que alguns discursos (mesmo de certos políticos...) querem fazer crer. Sousa Franco mostrou nesta campanha que é possível lutar por causas, serena mas empenhadamente, com discurso vivo, mas sem resvalar para a ordinarice. O entusiasmo que patenteou levou mesmo algumas almas a vê-lo em papéis que não estavam em jogo. Mas o regresso de Sousa Franco à política mostrou também uma disponibilidade desinteressada, alheia a jogadas de bastidores, que foi, também ela, exemplar.
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