terça-feira, 15 de junho de 2004

Eleições - a coligação

O resultado das europeias em Portugal vem deixar a nu o que se previa - o mal-estar que acompanha a coligação desde a nascença.
Ninguém poderá, com rigor, dizer que a derrota se deve a um ou outro factor. A um ou outro partido. Provavelmente, deve-se a uma constelação de razões. As sondagens já apontavam para uma razoável erosão do PP, deixando entender que o partido de Portas é hoje uma menos-valia na coligação.
Contas à parte, a verdade é que um certo PSD (uns certos PSD...), mais tradicional, mais ligado à história do partido, nunca viu com bons olhos uma coligação que, pressentia, acabaria por afectar ideologicamente o partido.
O PSD deu-se sempre mal com as ideologias. É um partido central, sem ideologia, mas que no seu interior cobre o espectro de direita, até onde é razovável falar de centro-direita. Nessa leitura, o PP será sempre um exagero, ao acentuar o pendor de direita radical, de que o PSD não necessita.
Acresce que este PP tem pouco para oferecer - é, ao contrário do que parece, pouco reformista. Está mais interessado em alimentar passadismos, em recuperar um certo conceito de portugalidade, em brincar às ideologias. Mais pragmático, mais reformista, o PSD vê-se, assim, arrastado para batalhas ideológicas que incomodam vastos e influentes sectores do partido. A energia que, inquestionavelmente, o PP gera não é aquela que interessa ao PSD.
O que vai fazer o PSD com este resultado é uma incógnita. O governo talvez vá ser remodelado, mas isso não resolverá o mal-estar.