terça-feira, 8 de junho de 2004

O enterro da Guerra Fria

Eu pensava que o comunismo tinha nascido derrotado. Um sistema tão mau só poderia estar condenado ao fracasso.
E pensava que, tendo ele nascido derrotado, a derrota tinha crescido com a idade. A lei da vida.
Tinha ficado mais derrotado quando foi obrigado a construir um muro para se defender. Mais derrotado quando foi obrigado a retirar os mísseis de Cuba. Mais derrotado quando viu que na Pensínsula Ibérica não poderia semear descendência. Mais derrotado, enfim, quando o que tinha para a troca era um Terceiro Mundo paupérrimo e um bocado da Europa a caminho do Terceiro Mundo.
Pensava eu, também, que a Guerra Fria estava, assim, mais que ganha. Todos, a começar por eles, sabiam que o desequilíbrio de desenvolvimento, económico e militar, era flagrante. Pensava, pois, que a Guerra Fria já era, há umas décadas, um mero jogo que interessava às duas partes como mera operação de propaganda. Um quase entediante jogo de estratégia, uma burocracia para manter a malta ocupada.
Estava enganado. A Guerra Fria, afinal, estava bem vivinha da costa. E quem a matou, de morte súbita, foi um tal de Ronaldo Reagan mais um Papa Karol.
É o que esta vida tem de bom - estamos sempre a aprender.