Brasil, apesar dos equívocos
Na Veja desta semana, há um anúncio de duas páginas que fala de nós. É da cachaça Pirassununga 51 e reza assim: «Cachaça 51, para os portugueses matarem as saudades da terrona» e, mais abaixo, «aprecie em reais o que os portuguses estão pagando em dólares».
Nós não temos saudades da «terrona», nós é mais «terrinha», nós não bebemos cachaça, nós é mais aguardente, nós não pagamos em dólares, nós é mais euros... mas nós percebemos a mensagem: os brasileiros estão orgulhosos por exportarem cachaça e dão Portugal como exemplo.
Europa, para os brasileiros, era, até há muito pouco tempo, Paris, Roma e pouco mais. Portugal não era bem Europa, essa Europa símbolo de cultura e modernidade. A Europa onde se vai passear.
Agora, com alguns equívocos - e muitos imigrantes - à mistura, Portugal parece ter ganho espaço no mapa-mundi do Brasil. Isso é bom, acho eu.
O Brasil e África ainda são o que de melhor temos para dar ao mundo. Essa coisa da língua perdura mais que séculos de colonialismo, décadas de guerra, outras tantas décadas de mal-entendidos.
Com esses países - mas principalmente com o Brasil - começa a emergir uma relação descomplexada, feita de vai-vém e troca de gentes, cultura, artes, dinheiro... com a qual só temos a ganhar. De repente, deixou de ter importância a colonização da telenovela a que correspondia, do lado de lá, uma fossilização no Pessoa, no Eça, na Amália. De repente, há brasileiros de sucesso em Portugal, como também há brasileiros a servir nos restaurantes, com a mesma naturalidade com que os portugueses, no século XX, lá chegaram e ficaram com o que havia.
Assim, sem complexos, podemos sentar e conversar, imaginar projectos comuns, revelarmo-nos ao mundo. Não é coisa de somenos.
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